sexta-feira, 6 de junho de 2008

PS E VÍTOR DA GUIA - De novo de candeeias às avessas

Chovem por aí picardias em torno do último evento promovido em Azinhaga, pela sua Junta de Freguesia, onde ocorreram a inauguração do pólo José Saramago, a consagração da sua esposa Pilar del Rio como filha de Azinhaga e agora "detentora" de uma rua e ainda a geminação de Azinhaga com duas localidades espanholas.

O PS, ex-partido de Vítor da Guia, presidente da Junta de Freguesia de Azinhaga eleito pelo GIVA, alude à recente conversão deste ao saramaguismo, deduzindo-se que antes assim não era dessa "religião", podendo até pressupor-se da crítica que antes fosse contrário, já que o acusa de oportunismo político.

O próprio PS publicitou no seu sítio oficial uma foto do Sr. Presidente da Câmara "a dormir" (não estaria certamente, mas o feliz flash do repórter fotográfico de serviço apanhou um instantâneo com os olhos fechados), para procurar demonstrar com boa dose de ironia, a indiferença com que a Câmara Municipal (eleitos do PS) encara as manifestações promovidas pelo seu ex-homem de confiança.

José Saramago é uma figura incontornável, goste-se ou não dos seus escritos, partilhe-se ou não da sua ideologia, que jamais deixou de evidenciar pela sua (longa) vida fora. Eu sou dos que não aprecio e não comungo. Mas, ao mesmo tempo, sou dos que respeitam e reconhecem o prestígio nacional e internacional do prémio nobel da literatura, o que por si só lhe confere um status assinalável, pelo mérito pessoal e não por outra razão.

A CM, que promoveu já várias iniciativas no âmbito do reconhecimento público de algumas personalidades das nossas terras, nunca se mostrou "virada" para o fazer com José Saramago, exceptuando-se a atribuição do seu nome à biblioteca de Azinhaga. Não conheço dos motivos, mas pode concluir-se que alguém do executivo simplesmente não gosta de José Saramago e que por isso entende que não lhe deve reconhecer o mérito, premiando-o de outra forma, mais afirmativa.

E neste «não gosto não reconheço» e «não gosto mas reconheço», parece-me que Vítor da Guia tirou mais partido do que a CM e o seu Presidente, pela simples razão que Vítor da Guia, independentemente das suas motivações, que não deixam naturalmente de procurar promover a sua imagem política e capitalizar mais uns votos para as próximas autárquicas, pode sempre alegar que as suas opiniões pessoais foram relegadas para segundo plano, em prol da justeza do reconhecimento do talvez mais prestigiado e reconhecido filho da terra, apesar de lá ter saído gaiato, para só muitas décadas depois lá voltar. Outros irão argumentar que, para promoção pessoal já vale tudo, incluindo promover alguém de quem não se gosta para tirar daí vantagens políticas.

Sabendo-se a reconhecida habilidade da CM no aproveitamento de coisas deste género, surpreende-me que tenha dado de bandeja ao seu agora adversário a oportunidade de "brilhar", concretamente à luz dos olhos dos Azinhaguenses, conseguindo um palco com elevada visibilidade na sua freguesia.

Na política, infelizmente, estes acontecimentos tendem a ser, talvez pela sua visibilidade, extrapolados em detrimento de outros, bem mais importantes, que se prendem com a acção e a inacção e com os fundamentos estratégicos onde os eleitos sustentam os seus modelos de desenvolvimento para as suas terras. E, talvez motivados por essa visibilidade, não se têm coibido os políticos de cá, de aproveitarem sessões solenes, como esta e como a das comemorações do 25 de Abril, para deixarem as suas "bicadas" uns aos outros, políticas pois claro, quando os momentos aconselhariam uma postura bem mais institucional, onde discursos de circunstância fariam mais sentido e ajudariam, estou certo, a tornarem mais agradável e mais saudável o clima de confrontação, que se deseja e é salutar, mas de forma mais elevada.

Só que as querelas pessoais não têm deixado margem para o bom senso, sendo que quase todos não têm resistido a "entrar na onda".

É a pré-campanha em fase de aquecimento.

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