quinta-feira, 12 de junho de 2008

PARALISAÇÃO E AUTORIDADE DO ESTADO

Terminou finalmente esta madrugada uma das maiores e de maiores consequências manifestações de desagrado para com o Governo de que tenho memória. Ao pé disto, o buzinão da ponte 25 de Abril ou a manifestação da Pereira Roldão foram simples amostras. Mas lembro-me bem das consequências dessas no passado...

Após terem sido aceites as propostas apresentadas pelo Governo, naquilo que a ANTRAM considera ter sido o "acordo possível", o País acordou hoje com a expectativa do lento regresso à normalidade. Espera-se que dentro de poucos dias os postos de combustível estejam a funcionar em pleno, que os supermercados tenham à disposição do consumidor os bens alimentares necessários, que o turismo perceba que afinal tudo não passou de um susto e que todos nós recuperemos a tranquilidade, para enfrentar as (já tantas) dificuldades que quotidianamente se nos deparam.

Mas afinal o que ficou desta manifestação? Além de camiões vandalizados, de uma morte trágica e de violações atrás de violações de alguns direitos fundamentais dos cidadãos, fica uma verdadeira afronta à autoridade do Estado. E nesta matéria, o Governo não só não teve a capacidade de antecipar a resolução de um problema eminente, como não teve a capacidade de garantir aos cidadãos alguns dos seus direitos fundamentais, permitindo e autorizando que, um pouco por todo o País se criasse em clima caótico, que abalou profundamente a confiança dos Portugueses no Estado, que deve, acima de tudo, ser seu protector.

Mas não. O Governo tratou de garantir exclusividade de tratamento a alguns postos de combustível que decidiu considerar prioritários, fazendo com que as forças de segurança garantissem essa "dádiva" a esses priveligiados. Quanto ao resto do País, ficou num "aguente-se que já lá vamos", quando os nossos governantes se refugiaram num confrangedor "no comments", enquanto procuravam ansiosa e desesperadamente a forma menos penalizadora para a resolução do problema, naquilo que é o efeito político e eleitoral que sobre eles se abaterá.

Perceber se o Governo cedeu ou não aos interesses económicos de um determinado núcleo de actividade não é neste momento determinante, como não o será discutir a pertinência ou não das reivindicações desse núcleo. Importante é o que o Governo deixou que se fizesse para que as suas aspirações fossem evidenciadas. Eu não esqueço que o Estado não tratou de, rapidamente, garantir a salvaguarda dos direitos dos cidadãos.

Andamos todos sufocados pela elevada carga fiscal, pela subida da inflação e das taxas de juro, pela subida galopante do preço dos combustíveis e das matérias primas, pela subida dos bens alimentares. Andamos sufocados mas vamos andando, até que um qualquer "piquete" decida que tenhamos que deixar de andar. E nessa altura, como vimos, o Estado não fará com que possamos continuar a andar. Aliás, os prejuízos de ordem económica para o País serão incalculáveis, mas ficaremos agora a aguardar que sobre isso o Governo se pronuncie.

Veja-se o exemplo de "nuestros hermanos": ao quarto dia de paralisação, o Estado garantiu já a escolta de mais de oito mil camiões com bens essenciais (nomeadamente alimentares, combustíveis e produtos de higiene), deteve já mais de 100 elementos dos piquetes que também já considerou ilegais, sendo que um deles foi já condenado a pena de prisão de oito meses. Importa ainda referir que, só na Catalunha, os danos económicos cifram-se em 100 milhões de euros diários com esta manifestação.

Mas isso foi LÁ. CÁ, ficaremos agora atentos para perceber os contornos em termos de penalização, para aqueles que persistiram em violar os nossos direitos fundamentais, como atentos ficaremos para ver o comportamento do Governo face ao crescimento exponencial dos problemas sociais.

Mas por favor, não nos digam mais que os Governos anteriores é que têm a culpa...

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