quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O URBANISMO COMO FACTOR DE COMPETITIVIDADE

É público para os visitantes do Golegã XXI que defendo uma "abertura" em termos urbanísticos, nomeadamente no que diz respeito a edificações de carácter habitacional. É todavia igualmente público que defendo (ao mesmo tempo e em igual escala) a preservação da nossa indentidade urbanística, especialmente a arquitectónica. Escrevi-o já neste blogue, num artigo onde tive a oportunidade de enunciar aquelas que seriam, na minha perspectiva, as vantagens do equilíbrio e coabitação entre a tradição e modernidade.

Falei nesse artigo também de factores de competitividade. Cabe aos autarcas definirem as linhas de desenvolvimento procurando gerar nos seus concelhos essa competitividade. Várias vectores devem naturalmente ser equacionados, como a oferta turística, a exploração dos ex-libris, o desenvolvimento do tecido económico, a dotação estrutural para eventos diversos desde actividades desportivas e de lazer até às culturais e recreativas. Eu se fosse autarca, procuraria incessantemente não desdenhar nenhum deles, mas antes procurar em cada um a forma de complementação dos outros, numa perspectiva sistémica, jamais isolada ou avulsa.

No sector imobiliário, parece-me evidente que um constrangimento demasiado rígido em termos arquitectónicos, especialmente no segmento habitacional, traduz-se numa perda de competitividade face a concelhos limítrofes, que podem colocar no mercado "produtos" mais consentâneos com as tendências actuais, logo com a procura. Perante isto e se considerarmos que qualquer Concelho que acuse sintomas de interioridade, como o nosso, terá que desenvolver uma estratégia não só de fixação populacional, mas também e talvez acima de tudo de captação de novos residentes, torna-se óbiva a importância da competetividade nesse segmento que, de "mãos dadas" com vectores que antes enunciei, ajudarão a criar condições mais consolidades de combate ao êxodo e mais apelativas a potenciais novos residentes. É de um processo estruturante e integrado que surgirá essa consolidação, daí ter afirmado que nada deve ser desdenhado.

Sabe-se que no mercado imobiliário (como noutros, especialmente o financeiro) as expectativas e os sinais são demasiado importantes. Sabe-se que o discurso político influi nas opções dos agentes desses mercados de uma forma cada vez mais decisiva.

E é a propósito dessas expectativas e desses sinais que vos deixo uma descrição cronológica, por assim dizer, acerca desta matéria:
O artigo que no início vos falo foi publicado aqui em Abril de 2008 e constatei com agrado (em Dezembro de 2008) que da parte do executivo municipal começavam a haver sinais dessa abertura, até então nada evidenciados. Dizia então o Sr. Presidente da CMG que veria com bons olhos "...fazer construções de arquitectura mais arrojada e moderna porque não vale a pena andar sempre a fazer casas do século passado.".
Mas isto foi em Novembro de 2008, porque em Novembro de 2009 o mesmo Presidente afirma sobre o mesmo assunto que "...não pactuamos com políticas passageiras e não deixamos que os materiais que nada têm a ver connosco possam ser aqui empregues, não faz sentido.".

Ora, sabe-se que nas chamadas "construções contemporâneas" - adianto que não gosto da expressão - um dos aspectos de diferenciação é justamente a utilização de materiais ... diferentes. Não mudaram apenas os conceitos, nem tão pouco as formas. Com eles mudaram também os materiais.
Assim, construir "arquitectura mais arrojada e moderna" e ao mesmo tempo "não deixamos que os materiais que nada têm a ver connosco possam ser aqui empregues" parecem-me dois conceitos antagónicos, com dificuldade de se encaixarem. Diria mesmo que são duas visões totalmente incompatíveis. E nem vou falar outra vez (para já) na exclusividade que a CMG tem reservado para si em termos de inovação arquitectónica, usando precisamente esses "materiais que nada têm a ver connosco".

Já o disse, o Presidente da CMG tem na minha opinião um apurado bom gosto, que se nota em muitos cantos e em muitas das intervenções onde sei que tem tido papel preponderante. Partilho até dos seus gostos na maioria dos casos, digo-o com à vontade. Politicamente falando, no reforço da importância das tais expectativas e sinais e na forma como procurei demonstrar que influenciam os mercados, parece-me ser necessária uma definição da estratégia. É que assim ficamos sem perceber por onde ir.

Por aqui, o que está dito está dito. Em relação ao artigo de 17 de Abril de 2008 está bem como está. Ontem, como hoje.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

ESTRADA NACIONAL 365 - Um problema que já não é de hoje

Sobre a EN365, já aqui foram feitas algumas abordagens. O link que vos deixo refere-se a um artigo publicado em 18 de Fevereiro de 2008.

Como recordar é viver, aqui fica o meu comentário à época, a uma notícia do RCE:

"Apenas um comentário: O Sr. Deputado Nelson Baltazar (PS) deve ter ido verificar in situ outra estrada! Porque considerar que a N365 (que liga Golegã a Azinhaga) tem função de dique só pode ser mesmo distracção do zeloso senhor, ou por pura brincadeira, cujo sentido de humor não tive ainda capacidade de entender... ".

Sugestão: os subscritores do abaixo-assinado podem ligar ao Sr. Deputado, explicar-lhe que a lama trepou o dique e provocou um acidente. E já agora, peçam-lhe para assinar também.

E se descobrirem quem lhe deixou as dicas sobre o "dique", solicitem também o favor da sua assinatura. Esta já é mais difícil! Ou não?!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

AFINAL ELE É O PIOR...

... E NÓS NÃO SABÍAMOS
É oficial. Portugal tem as contas públicas numa das maiores lástimas de que há memória. Parece que alguém se enganou nas contas e afinal o défice anunciado à umas semanas, não é na realidade o défice real.

tivemos um ministro que apregoou o fim da crise, tivemos outros que se enganaram nas contas do Estado, outros que fizeram subir a despesa pública em vez de a descerem, outros ainda que dizem que não vão aumentar impostos, quando todos sabemos que vão. Tivemos ainda um entusiasmado candidato a 1º ministro que prometeu criar 150.000 postos de trabalho, quando o resultado foram muitos mais desempregados quando veio efectivamente a ser 1º ministro. Enfim, temos tido de tudo.

O que nós pensávamos que não tínhamos, era o pior ministro das finanças da Europa, mas afinal, para os que nos olham de fora, até temos.

É sempre bom sabermos coisas novas.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

AINDA A ASFIXIA DEMOCRÁTICA

Ainda um pouco na sequência do artigo anterior, mas num outro contexto e numa outra escala, quero partilhar convosco um artigo assinado por Henrique Raposo, no Expresso, já em Novembro passado.

"No Verão, o Expresso disse logo que Sócrates sabia que a PT estava a comprar a Media Capital. Ninguém desmentiu esta notícia. Assim, temos toda a legitimidade para fazer a pergunta indigesta: o primeiro-ministro (PM) mentiu ao país? Aliás, o omnisciente cata-vento do regime, o professor Marcelo, disse várias vezes que não acreditava que Sócrates não tinha conhecimento do negócio. Portanto, temos no poder alguém que é percepcionado como, vá, um Pinóquio aprumadinho. Mas o pior nem sequer é a - possível - mentira de Sócrates. O pior é mesmo a inércia da elite 'comentadeira'. Perante o - hipotético - nariz XXL de Sócrates, esta malta mediática encolhe mediaticamente os ombros.

Quando a inércia chega a este ponto, o problema já não está no PM. O problema está, isso sim, na cobardia da dita elite. Estamos a falar da gente que sovava Santana Lopes todos os dias (e Santana, ao pé de Sócrates, é um menino). Esta indignação selectiva tem uma explicação: bater em Santana não tinha custos; bater em Sócrates tem um preço alto. É por isso que ninguém quer ver o óbvio ululante: se mentiu, Sócrates não tem condições para continuar a ser PM.


E os factos que namoram a demissão de Sócrates acumulam-se. Aparece um todas as semanas. Num trabalho da "Sábado", ficámos a saber que empresas públicas retiraram publicidade de jornais que incomodavam Sócrates. No centro desta publicidade selectiva até está um banco - teoricamente - privado: o BCP, onde Armando Vara tinha o pelouro da publicidade, cortou 75% de publicidade no "Público" e 68% no "Sol" (um facto eloquente).

Depois, José António Saraiva afirmou que alguém próximo do PM tentou subornar o "Sol" no sentido da não-publicação de notícias sobre o Freeport; como não aceitou o suborno, o jornal sofreu uma retaliação económica liderada pelo BCP. Perante a gravidade destas acusações, o Ministério Público (MP), e não a ERC, tem de entrar em cena. Esta não é uma mera questão técnica de regulação dos media. Esta é uma questão política e potencialmente criminosa.

O MP só tem dois caminhos: ou prova que Saraiva é um 'ser' inimputável, ou descobre que Saraiva está mesmo a dizer a verdade. Mas, claro, o MP vai ficar quieto. E nós, mais uma vez, vamos ficar sem uma resposta para a pergunta que paira no ar: o nosso PM é um perigoso Berlusconi de esquerda, ou é uma pobre vítima de uma cabala cinematográfica saída da mente de Dan Brown?

Apesar de tudo, no meio deste pântano de impunidade e cobardia, há uma coisa que me dá prazer em doses tântricas: Sócrates já é o pior primeiro-ministro da democracia. Ninguém tem coragem para o demitir agora, mas Sócrates já foi demitido pela nossa memória colectiva.

O povo português associará sempre o nome de Sócrates a coisas pouco recomendáveis. Uma enorme e legítima desconfiança irá sempre pairar sobre o nome de Sócrates. E isso, meus amigos, dá-me um enorme prazer. Deus pode dormir, mas a história não.

O "B-A, BA"

Quando um ministro acusa magistrados de "espionagem", só tem duas saídas: ou tem o ás e a manilha de trunfo (isto é, prova o que diz) ou demite-se. Se não tiver a dignidade para se demitir, tem de ser demitido pelo PM.
"

Henrique Raposo
Texto publicado na edição do Expresso de 28 de Novembro de 2009

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

GOLEGÃ JOVEM DE FACE OCULTA

O anonimato não é de todo a forma que entendo mais correcta para qualquer intervenção, nomeadamente a cívica. Numa sociedade de pleno direito, democrática e aberta, ainda hoje me espanto com o receio de assumir posições, de emitir opiniões, de escolher, de optar, de criticar. Ou melhor, como diria Sá de Miranda, m'espanto às vezes, outras m'avergonho.
Da juventude, regra geral irreverente, menos sensata às vezes, não se espera anonimato. Espera-se coragem e determinação para dar rosto às causas em que acredita, espera-se audácia e acutilância. Não medo. Jamais anonimato.

Surgiu à uns tempos, sob a forma de movimento sensibilizador para a acção da juventude goleganense o "Golegã Jovem". Segundo informações veiculadas em O Riachense, o movimento reclama-se apartidário e, pasme-se, prima pelo anonimato por ter "receio de ser asfixiado antes mesmo de se impor". E isto meus caros merece naturalmente uma reflexão.

Antes de mais deixa subentendido que na Golegã existe na realidade um défice democrático. Se bem se lembram já aqui coloquei um artigo sobre esta matéria, num artigo intitulado de "O Poder Local condiciona as liberdades?" Foi em 4 de Outubro e, sem surpresa mas com desilusão, constatei que as centenas de visitantes do Golegã XXI nesse mês não tiveram uma única palavra para o tema. Por receio, por desinteresse ou por qualquer outra razão, a verdade é que não mereceu, ao contrário de outros assuntos, a "vossa" atenção.

Mas importa referir, ainda em relação a esse artigo, que os exemplos que deixei (Veiga Maltez, Carlos Simões e Conceição Contente) assinaram por baixo as suas opiniões de que o poder local condicionaria as liberdades. Sem subterfúgios, sem capas, tudo às claras. Como de resto deve ser.

Mas há mais coisas que me inquietam no anonimato do Golegã Jovem (GJ). A escolha do caminho mais fácil. A escolha da obscuridade, que é geralmente reveladora de falta de carácter. A escolha de ter medo, a escolha de se esconderem num blogue na web, de corroborar naquilo que consideram ser a asfixia democrática na Golegã. O GJ pactua assim com esse estado de coisas, se é que tal existe na realidade. Mais, este tipo de comportamento não é o que desejo para os jovens da minha terra. Não quero uma Golegã Jovem de Face Oculta. Não quero. Quero jovens com capacidade de intervenção cívica, política, associativa e empreendedora. Mas também quero jovens sem receio de se mostrarem, de opinarem, de criticarem e sentirem que com isso enriqueceram a democracia local. O GJ, enquanto continuar assim, contribui inequivocamente para o seu empobrecimento. Enquanto for assim poucos o levarão a sério, muitos questionarão a sua verdadeira razão de existir. E é pena, porque o blogue até tem algumas matérias interessantes e pertinentes.

Far-me-ão o favor de não me considerarem totalmente ingénuo. Sei que tudo tem um preço. Só que a questão, se me permitem, nunca deve ser essa.

A questão é simples e tem que ver apenas com o quanto estamos dispostos a pagar.

"PRESIDENCIAIS" JÁ ARRANCARAM...

... ENTRE "ENTALANÇOS" E "DESENTALANÇOS".

Manuel Alegre não quis incorrer no mesmo risco de 2006 e decidiu anunciar a sua candidatura antes do PS escolher (ou publicitar) a sua escolha. É óbvia assim a intenção de Alegre de "entalar" o PS, como o PS entalara Alegre antes. Aliás, outra coisa não fez na anterior legislatura Alegre do que "entalar" o PS e José Sócrates, que agora, presumo, não perderão a oportunidade de voltar a "entalar" Alegre.

Parece-me na verdade que o PS e Sócrates estarão, nesta fase, mais "entalados" que Alegre. E porquê? Porque os dois primeiros sabem que dificilmente, com Alegre na corrida, o PS conseguirá apresentar um candidato que consiga derrotar Cavaco Silva e "entalados" porque ao apoiarem Alegre, entretanto publicamente apoiado pelo BE e sustentado por um discurso político e acção parlamentar que apontam no sentido de uma radical estatização, irresponsável no meu ponto de vista, mais não estariam a fazer que ajudar a eleger um Presidente da República contrário às políticas tecnocráticas e austeras do Governo actual, com algumas pinceladas de esquerdismo é certo, mas nada consentâneas com as reclamações e pregões do BE ( e de Alegre) que sopraram e têm soprado da "ala de leste" na Assembleia da República.

Porém, sabem o PS e Sócrates que, colocando na corrida um candidato que fique atrás de Alegre e, quase de certeza, também atrás de Cavaco Silva, perde alguma da imagem de força e sucesso eleitoral, granjeado num passado recente. E por isso, derrota por derrota, que perca Alegre pessoalmente e não o PS, o que pode ser outra forma de "entalanço" apoiando-o, ditando de vez a sua "morte" política em caso de derrota, o que não deixaria de agradar ao secretário geral do PS.

Vamos certamente assistir a muitas manobras no curto-prazo. Como prognósticos só no fim me parecem demasiado fáceis, cá deixo o meu: O PS e Sócrates promoverão o seu próprio candidato, "entalando" de uma só vez o próprio PS, o próprio Sócrates e o próprio Alegre.

A bem da verdade, solução que me desagrada nada. Mesmo nada...