quarta-feira, 26 de novembro de 2008

NACIONALIZAÇÃO OU PROTECÇÃO?

O "buraco" do BPN trouxe à tona muitas das coisas que já se diziam à muito, ainda que sussurradas, com mais ou menos ruído. A imagem que fica é que o Estado Português (que é como quem diz, todos nós) promoveu a nacionalização do banco em causa, no sentido de salvar os depositantes (que é como quem diz, alguns de nós). O povo a ajudar o povo.

Mas essa imagem não me convence. O que vejo nesse quadro, além da reintrodução de um regime legal para fazer nacionalizações (o que deverá deixar os ortodoxos de esquerda contentes e felizes e os outros, os que o não são, um bocadito apreensivos) é que um banco com menos de 2% de actividade financeira e desde sempre rodeado de uma auréola de "dúvidas" de gestão, vê agora colmatadas as loucuras ilícitas(ou pelo menos supostamente ilícitas) dos seus gestores com 500 milhões das reformas dos portugueses.

Este Estado, que se obriga ( via CGD e Banco de Portugal) a concessionar mais de 400 milhões em crédito - apesar de há muito já conhecer a situação do banco -, não pode pretender que encaremos essa operação como uma simples nacionalização. Este mesmo Estado, que nos habituou a ouvir que não há dinheiro para reformas com dignidade, que não há dinheiro para a valorização dos salários na função pública, que não há dinheiro para que se possa reduzir a carga fiscal e dessa forma desapertar (só um bocadinho) o garrote que asfixia famílias e PME´s, que não há dinheiro para manter urgências, maternidades e escolas, é o Estado que arranjou agora paletes de milhões para tapar buracos que alguém abriu de forma inacreditável no BPN.

É este Estado (com o seu fiel aliado Banco de Portugal, com a inacção a que já nos vem habituando) que protege politicamente uma instituição com regras e princípios, ao que parece, pouco claros. E protege ainda os pobres dos gestores e dos accionistas (onde andam os milhões dos lucros???) que por acaso até parece que não tinham que ter percebido o que se passava.

É este o mesmo Estado que vê o desemprego crescer, que vê as micro, pequenas e médias empresas a falir em catadupa, aquele que não quer acabar com o pagamento especial por conta nem alterar o regime do IVA para que as empresas o devolvam apenas quando o receberem.

É este Estado que nos diz agora que afinal há uns milhões de reserva e que nos diz agora também onde eles irão ser aplicados. Cresci a ouvir e a ler os milhares de milhões de lucros anuais obtidos pela banca. Pergunto inocentemente, onde estão agora que são precisos?

Quando se fala tanto na necessidade da regulação dos mercados financeiros, na procura de moralizar e controlar o capitalismo desenfreado, o Estado Português acaba de nos mostrar que isso não passará de retórica.

Já sei que temos que pagar a crise económica, mas por favor, não nos obriguem a pagar a crise financeira.