sexta-feira, 27 de junho de 2008

ESQUERDA ORTODOXA AGORA POPULISTA

Estamos a pouco mais de um ano das diversas eleições. Quando lá chegarmos, estou certo que será num período bem mais consolidado desta crise que teima em ficar e que só agora começa a demonstrar os seus primeiros indícios. O Rock in Rio ainda encheu, as viagens para o Algarve nos fins de semana grandes ainda foram muitas, as viagens para o Brasil ainda continuam em alta. Mas, talvez para o ano, se notem alterações mais significativas nestes e outros indicadores, pese embora os sinais fortíssimos que já atingiram grande parte da população portuguesa.

Mas, dizia eu, que o clima em que as eleições vão ser disputadas, irá ser ensombrado pelas nuvens negras da crise económico-social. O clima ideal para usar o guarda chuva do populismo. Paulo Portas está farto de o tentar, mas sem sucesso. Pedro Santana Lopes e Luis Filipe Menezes almejaram-no, mas foi sol de pouca dura, apesar da andarem, esses e outros, "por aí", que é como quem diz que também podem andar "por aqui".

Mas é a esquerda mais ortodoxa aquela a quem o populismo passou a ser agora imagem de marca. Quem ouve Francisco Louçã a falar, seja junto de meia dúzia de pescadores ou outros agentes contestatários, percebe concerteza a carga demagógica que dali é emanada. Numa linguagem quase inquisitorial, contra os corruptos e os exploradores - os outros -, sempre do alto da sua superioridade moral, para quem tudo (e todos) o resto não passam de cantigas para entreter o povo. O BE já começou a trabalhar na sua nova estratégia. Sabe bem que o PS apenas tinha que controlar a "sua" esquerda, a interna. Também sabe que o PS pouco tinha com que se preocupar com o PSD, na sua linha de orientação errática, de onde recentemente saíu. Mas o BE sabe bem que agora tudo mudou. E o PS também sabe.

O recente comício polític do BE, com alguns socialistas á mistura, dos quais se destacam Manuel Alegre (o PCP esteve "fora"), demonstra que o BE também sabe que provavelmente o PS já perdeu a maioria absoluta. E parece-me também saber, que com este "ajuntamento", o "centrão" mais moderado tenderá a derivar para o PSD, agora com condições objectivas de se assumir como verdadeira alternativa. Não, não se pense que defendo que o BE visa criar condições para que o PSD saia vencedor das próximas eleições. O que o BE quer é ser governo e para isso terá que fazer com que o PS dele necessite. O BE sabe que o cobertor do PS não chegará para tudo. Se quer tapar a sua "Frente de Leste", terá que destapar o centro e vice-versa. Tentou por isso colocar o PS num colete de forças. Bem maior que o do PSD, que, folgado à direita, poderá aproveitar esta "provocação" do BE para tirar partido do eleitorado à sua esquerda.

E porquê o título? Porque, no tal clima de crise em que iremos assistir à disputa das eleições, o BE sabe que o seu populismo passa melhor que, por exemplo, o do PP. Também sabe que o PS, por coerência não poderá ir por aí, não se prevendo que possa mandar alargar o cinto, porque as circunstâncias e o passado nesta legislatura não o permitirá. E sabe ainda que o estilo deste PSD não é esse. Fica então com esse palco para ele (e para o sempre convicto Paulo Portas, onde tudo parece gasto e sem brilho), que não se coibirá de usar e voltar a usar.

É daqui que poderá emergir uma das grandes vantagens do PSD e de Manuela Ferreira Leite. Descontando os que embarcam no conto do vigário da demagogia, os portugueses em geral chegarão a essa altura ainda mais preocupados. Com bom senso, não vão querer os que lhe prometem mundos e fundos, mas poderão pensar em optar por aqueles que, com sentido de responsabilidade, com menos mentiras e mais verdades, com menos incoerências e mais coerência, sem espectáculos, mas com credibilidade, lhes poderão permitir passar pela crise de uma forma mais soft. Em meu entender, não vão ser as grandes questões programáticas (para mim bastante importantes), nem as normalmente chamadas de fracturantes que irão decidir a tendência. Serão antes os aspectos que acima defendo. O centro, moderado, aquele que decide, vai tentar perceber se tem razões para trocar.

A mim, quer-me parecer que sim.

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