segunda-feira, 7 de julho de 2008

A MÁ ENTREVISTA E A ENTREVISTA PORREIRA, PÁ.

As entrevistas da semana passada de Manuela Ferreira Leite, primeiro (TVI) e José Sócrates, depois (RTP) foram alvo de imensas análises, por parte de outros tantos comentadores políticos, ligados aos mais diversos quadrantes e órgãos de comunicação social. Muita tinta dali correu, sendo que a busca dos argumentos sobre quem teria sido o vencedor foi um denominador quase comum de tudo o que li e ouvi.

Porém, as entrevistas, em canais diferentes, em dias diferentes, com entrevistadores diferentes e sob circunstâncias diferentes, permitem tudo menos aferir que venceu ou quem perdeu.

Considero no entanto que algumas notas importantes se podem retirar das ditas. Ferreira Leite encontrou uma Constança Cunha e Sá "assanhada", agressiva, insistindo à exaustão nas questões onde podia eventualmente explorar alguma fragilidade, mais ou menos aparente, da sua entrevistada; José Alberto Carvalho e Judite de Sousa fizeram as honras da casa na recepção ao "chefe". Macios e elegantes, foram deixando fluir o discurso do primeiro ministro numa toada low profile, sem grandes "entalanços" e com (muito) pouca agressividade. Aliás, José Sócrates aproveitou o "passeio" para procurar dizer ao povão que afinal não é arrogante, mas antes um gajo porreiro. Pá.

Manuela Ferreira Leite teve quanto a mim apenas um "pecado": deixou que ficasse colada à imagem de que seria irredutivelmente contra os grandes investimentos públicos como aeroporto, tgv, etc. A leitura que faço da sua intervenção não é exactamente essa. A líder do PSD o que quer é saber mais acerca desses investimentos. Pretende ter acesso aos estudos custo/benefício e procurar perceber se, sim ou não e em seu entender, são prioritários para o País. Quer saber quando e como esses investimentos vão ser pagos. Aliás, foi a própria OCDE muito recentemente, a deixar um recado ao Governo de Portugal, no sentido de clarificar e publicitar esses estudos. De resto, foi igual a si própria, sem show-off e sem espectáculo, na sua bitola de rigor e honestidade. Abordou sem constrangimentos uma postura potencialmente impopular relativamente ao casamento de homossexuais, admitindo a discriminação, perante a insistência da efusiva entrevistadora. Reconheceu o mérito de José Sócrates no esforço feito para o equilíbrio das contas públicas e redução do défice, o que lhe confere uma boa dose de honestidade política. Demarcou-se ainda da possibilidade de um bloco central de interesses políticos, considerando essa prejudicial à saúde da democracia.

José Sócrates também não me surpreendeu (nem tão pouco os seus interlocutores). Espalhou pelo subprime, pela subida do preço de petróleo e bens alimentares a responsabilidade da crise e por si próprio e pelo seu governo os aspectos mais positivos. Confessou que a nossa economia vai passar por uma fase de abrandamento (finalmente, desceu à terra!). Afirmou ainda que o seu governo não lançou quaisquer obras públicas (!!!), mas que se limitou a executar o que à muito estava lançado, acusando o "toque" da líder do PSD. Mas foi na questão da redução do IMI que se "espalhou ao comprido". Em primeiro lugar, porque quer fazer um brilharete com o dinheiro "dos outros", já que, como se sabe, essa receita é dos municípios; em segundo lugar, como é seu timbre, deu, como fez questão de referir, a notícia em primeira mão, afirmando não ter havido acordo prévio com a ANMP; em terceiro lugar e perante a questão de qual o impacto dessa redução nas contas do Estado, fez quase como Guterres na célebre conta de cabeça sobre o PIB, ou seja, não faz a mínima ideia.

E um primeiro-ministro anunciar uma descida de um imposto, sem fazer a menor ideia do impacto dessa medida nas contas públicas, não é porreiro pá.

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