sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

SER OU NÃO SER POLÍTICO. EIS A QUESTÃO.

Num país em dificuldades e com a classe política em enorme descrédito, faço um esforço por continuar a acreditar na política e nos políticos.

Acredito no poder da política como instrumento de intervenção.

Sei que tem vícios, que nem sempre respeita os princípios da defesa exclusiva do bem público. Sei que a política é cada vez mais encarada com distanciamento e desconfiança. Sei que os laços que ligam eleitos e eleitores são cada vez mais frágeis, sem dúvida por maior culpa dos primeiros, sem eliminar contudo algumas responsabilidades dos segundos. Mas esforço-me por continuar a acreditar.

Não será porventura fácil combater a impopularidade dos políticos e diminuir o fosso que os separa dos que os elegem. Confesso que é para mim inquietante essa realidade.

É necessária pois uma conduta necessariamente diferente. Uma “revolução cultural” naquilo que é o exercício do cargo público elegível. É imprescindível a recuperação da necessidade de participação que resultará por certo na valorização do seu estatuto.

Torna-se por isso urgente que os partidos políticos promovam uma cultura de exigência, sendo que o mesmo defendo para os que elegem. Sou, ideologicamente, um social-democrata e revejo-me no projecto de Sá Carneiro que, atendendo à idiossincrasia do País, concebeu um projecto de social democracia, assente num modelo reformista e personalista. Acredito na teorização e na construção de uma comunidade com elevada intervenção individual e tenho como verdade que as questões económicas e morais promovem a resolução de problemas estruturais sociais.

Vejo hoje, com alguma tristeza, que políticos de facto se procurem alhear da classe. Que procurem ficar fora do sistema. Que insinuem não ser o que realmente são. Políticos, pois claro!

Felizmente muitos existem ainda, que assumem a colagem à classe, prestigiando-a com a sua dedicação à coisa pública e que por ela se batem. Ou seja, assumem-se no interior do sistema, sem deixarem de se bater por valores primordiais de conduta. É esse, na minha opinião, o caminho para a moralização do sector.

Os Srs. Presidentes da República e do nosso município são dois paradigmas do que acima descrevo. O primeiro com o auto-retrato de “político não profissional”, o segundo reclamando para si o epíteto de “médico-autarca”. Ambos não querem ser políticos, nem conotados com tal classe. Sendo-o no entanto. Compreendo melhor o primeiro, sendo que depreendi dessa posição uma manifestação clara de não dependência de cargos públicos aquando do seu abandono da política activa. Não foi nomeado para governador de coisa nenhuma; não foi enviado como alto comissário de coisa qualquer; foi destacado para nada. Afirmou-o ainda enquanto candidato e não em pleno exercício do cargo. Talvez hoje não diga o mesmo, porque, agora, é político profissional. E dos bons!

Já o segundo, em pleno exercício de funções, tem procurado alhear-se da tal classe denegrida e desprovida de crédito. Percebo-o, porque “leio” na sua atitude o reclamar de diferenciação na postura. Mas a realidade é que o “médico-autarca”(verdade insofismável, diga-se) é político. Porque pratica e exerce diariamente um cargo político; porque tem competências executivas num organismo do estado, em cargo elegível pela via política; porque, como o próprio assumiu, teve intervenção partidária no PS, em especial na, cito, “introdução de método e cultura organizacional”. Por este conjunto de razões, o Sr. Presidente da Câmara é, como não podia deixar de ser, político.

2 comentários:

Anónimo disse...

O Senhor Presidente da República é um Político de Classe e com Classe.

Simplesmente porque o merece ser e, de forma ímpar, porque o merecemos ter!

Até Breve,

Rui Augusto Sardinha

Anónimo disse...

O que leva uma pessoa a procurar uma carreira política? Idealismo, ideologia ou apenas uma personalidade autoritária? Ou mero oportunismo? E quanto podem os políticos esperar influenciar os acontecimentos? Como bem se vê, a política é talvez a única profissão para a qual se pensa que não é precisa nenhuma preparação...

Parece-me que os aspectos de um político que despertam algum interesse público praticamente não têm a vêr com a sua ideologia... o que parece interessar ao público não é o que os políticos dizem defender, mas sim como se comportam.

Dizer a alguém que se pretende governá-lo e que isso será do seu maior interesse, é algo de estranho para se dizer. Inegavelmente, a politica é uma actividade peculiar que apenas a alguns desperta forte atracção. Portanto é perfeitamente racional indagarmo-nos sobre que vai na cabeça desses poucos.

Obviamente, não pensam todos da mesma maneira e assumir que um político não é, de certa forma, diferente dos seus concidadãos, é caír num erro sério.

A alegação de que existe uma inerente similaridade entre os políticos e o cidadão comum é um mito democrático. Que é suposto ser útil porque reduz ressentimentos e desconfianças... Mas ao fazer parecer simples as relações entre "governadores" e "governados", que na realidade são complicadas, o mito faz mais mal que bem.

A semana que terminou ficou mais uma vez marcada por assuntos que entroncam, todos, naquilo que se pode chamar de ética da conduta política e/ou pública, citada amíude pelos principais intervenientes e por todos soberanamente ignorada. Não vale a pena trazê-los também para este blog, já foram por demais debatidos nas tertúlias "cor-de-rosa".

O político é diferente na sua atitude perante a vida. O que o motiva? O que o mantem no bom caminho? O que o separa dos que, directamente ou indirectamente, o elegeram?

Há claro, aqueles que consideram que nenhuma profissão é mais nobre do que a política porque quem a exerce assume responsabilidades só compatíveis com grandes qualidades morais e de competência. E que se comportam em conformidade. Mas infelizmente, são a minoria.

Podemos talvez distinguir dois tipos predominantes, actualmente. Os que exaltam a ideologia e as crenças dogmáticas acima da própria razão e/ou do senso comum. A ideologia torna-se, para esses, uma espécie de culto. A maior parte de nós julga as coisas pelos resultados práticos, mas alguns políticos julgam tudo através de uma teoria, em que, independentemente desta se revelar errada, acreditam "piamente". De plástico ou de porcelana, a rigidez é reconhecidamente uma sua característica. Quem solidariamente os acompanhar, poderá ter encontro marcado com o abismo.

Os outros, muitos até, pelo contrário, não parecem ter qualquer crença consistente. O seu objectivo é ganhar eleições e atingirem um qualquer assento à mesa do poder, e consideram mesmo a ideologia como um obstáculo à sua "honesta" ambição. Os políticos ditos de "borracha"... esses rapidamente poderão ascender ao poder, quiçá com uma maioria confortável, rodeados de acólitos ainda mais maleáveis...

Mas ambos os tipos se comportam como se, sem lutas contra alguém e vitórias sobre qualquer coisa, a vida política não sirva, ou agrade, a quem quer que seja.

Estes políticos não querem gozar apenas do poder, querem arrebatar, excitar, a sociedade. Citando Montherlant, "A política é a arte de captar em proveito próprio a paixão dos outros". E tendem a ser autoritários. Filocratas. Gostam de dizer aos outros o que devem fazer. Alguns mais que outros, mas os que são menos autoritários são os que descobrem que o espírito dos tempos que correm está contra eles.

Os políticos são diferentes porque são mais influenciados pelas teorias estabelecidas, estão mais preocupados em controlar a vida dos outros e retiram mais satisfação do exercício do poder, que o comum mortal. Ainda assim, talvez seja errado pensar que na sociedade contemporânea, os políticos de facto determinam a agenda dos acontecimentos. Num mundo cheio de conflitos latentes e declarados, de guerras pouco convencionais, e de perigos de exaurimento de recursos naturais, poucos acreditarão que os políticos controlam realmente os destinos das suas comunidades ou nações - e eles próprios duvidarão disso.

Li algures que o simples desejo de se tornar político devia constituir uma desqualificação automática para vir a ser um. Aqueles que governam deviam ser empurrados, puxados, mesmo contra a sua própria vontade, para o poder. Infelizmente, para se ser político hoje, parece ser necessário apenas interiorizar alguns dos mais feios defeitos humanos: egotismo, agressividade e ganância. A força por detrás do sentimento de que "a nossa ideologia é a certa" não se encontra em qualquer corrente filosófica que defenda o Bem Comum. Porque muito frequentemente, o que um político considera "Bem Comum" é apenas o que é bom para si próprio ou para quem o mantém no poder.

Acho muito interessante um artigo de Luiz Carlos Bresser-Pereira, na "Folha de São Paulo", sobre a Ética da Política, de que cito alguns trechos, que facilmente se transpõem da realidade brasileira para a portuguesa:

"A atividade política só se justifica se o político tiver espírito republicano, ou seja, se suas ações, além de buscarem a conquista do poder, forem dirigidas para o bem público, que não é fácil definir, mas que é preciso sempre buscar. Um bem público que variará de acordo com a ideologia ou os valores de cada político, mas o qual se espera que ele busque com prudência e coragem.

E nenhuma profissão é mais importante, porque o político, na sua capacidade de definir instituições e tomar decisões estratégicas na vida das nações, tem uma influência sobre a vida das pessoas maior do que a de qualquer outra profissão.

A ética da política, porém, não é a mesma ética da vida pessoal. É claro que existem princípios gerais, como não matar ou não roubar, mas entre a ética pessoal e a ética política há uma diferença básica: na vida pessoal, deve-se esperar que cada indivíduo aja de acordo com o que Max Weber chamou de ética da convicção, ou seja, a ética dos princípios morais aceitos em cada sociedade; já na política prevalece a ética da responsabilidade.

A ética da responsabilidade leva em consideração as conseqüências das decisões que o político adota. Em muitas ocasiões, o político é obrigado a tomar decisões que envolvem meios não muito nobres para alcançar os objetivos públicos. O político, por exemplo, não tem alternativa senão fazer compromissos para alcançar maiorias.

Quando pensamos nos principais responsáveis pela atual crise moral, o que vemos é que poucos foram imorais apenas em relação aos meios, utilizando meios condenáveis como a corrupção e o suborno, mas se mantendo fiéis a seus valores. A maioria é constituída de políticos que traíram todos os seus compromissos e passaram a adotar políticas econômicas que até o dia anterior criticavam acerbamente.
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