sábado, 23 de fevereiro de 2008

A NECESSÁRIA CREDIBILIDADE DA OPOSIÇÃO

Ser e fazer oposição num cenário político desfavorável, não em termos das características sócio-ideológicas dos eleitorados, mas acima de tudo pela descompensada representatividade nos órgãos decisores é, como se sabe, tarefa difícil.

Na política local, fazê-lo numa absoluta lógica de amadorismo, significa um esforço, uma entrega, uma dedicação e um espírito de missão e sacrifício notáveis. Significa muitas vezes, o prejuízo da vida pessoal, profissional e familiar, tudo em prol de convicções e do objectivo claro de bem servir. Esse esforço nem sempre é devidamente reconhecido, muitas vezes pelas populações e mais ainda por aqueles que diariamente, num enquadramento de profissionalização, executam no seu quotidiano a política. Alguns deles até, que nunca passaram por essa experiência, a do amadorismo puro por amor à causa, jamais saberão o que isso é.

Ainda assim e perante tais dificuldades, as estruturas da oposição não deixam de ter as suas obrigações. Para com elas próprias, para com os seus partidos e, em especial, para aqueles que os elegeram, ainda que em minoria.

Demonstra o histórico da política local, que nem sempre os mais organizados, mais empenhados e com mais provas dadas saem "premiados" com a escolha dos eleitores. Demonstrou também já a nossa comunidade que é imune, talvez pela sua complexidade sociológica, às dicotomias entre esquerda e direita, fazendo da sua volatilidade uma característica a reter.

Pese embora tudo isto, torna-se num desígnio primordial para as oposições a sua credibilização. Pela organização interna, pela manifestação pública das suas acções, pelo exercício da sua actividade política em sede própria, pelo seu relacionamento político-institucional com os restantes intervenientes. A credibilidade colectiva da oposição, advém também da credibilidade individual dos que a compõem e a personificam. A cada uma das partes que a compõem, à oposição, cabe naturalmente fazer as opções estratégicas que entendam, mas todas cairão por terra sem a necessária organização estrutural e a devida credibilização. Cabe-lhes pois escolher o caminho, o estilo, a forma e o conteúdo.

No estilo, cabe-lhes tomar opções entre assumir apenas o seu papel fiscalizador e meramente reaccionário, ou, ao invés, constituírem-se elas próprias como alternativa, adicionando a esse papel uma postura pró-activa, participativa, numa conjuntura de, como disse, organização sustentada. Cabe-lhes optar entre aguardar por soluções salvíticas ou estruturarem-se de forma consistente. Cabe-lhes destrinçar aquilo que é a credibilidade e o populismo.

Redutora é a ideia que a política é um cenário de guerra e que para a demonstração da nossa qualidade é indispensável que consideremos os nossos adversários como inimigos. Muitas vezes vejo incitamentos a ataques, cercos, extermínios e outras adjectivações, como se de um relato sobre o desembarque na Normandia se tratasse.

Às oposições pede-se "agressividade positiva", pede-se uma actuação fiscalizadora, mas pede-se acima de tudo uma postura com elevado sentido de responsabilidade, organização e credibilidade.

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