segunda-feira, 29 de setembro de 2008

GOLEGÃ SEM CRÍTICA, SEM OPINIÃO

A Golegã, dadas as idiossincrasias próprias da sua comunidade, revela um lapso importante ao nível do debate político, não necessariamente partidário. São notórias algumas situações que colocam a nu, as fragilidades ao nível do debate de ideias: por um lado uma ausência gritante de massa crítica; por outro a falta de órgãos de comunicação social, que promovam e publicitem esse debate; a falta de dinamização dos partidos políticos de oposição, que passam legislaturas inteiras sem que se dê por eles; e ainda a despolitização (quase) total da sociedade civil, avessa a partidarites e receosa de intervir de forma activa no debate político (repito, não necessariamente partidário) local.

Por isso, nem pela via partidária nem apartidária, se tem conseguido debelar uma maleita evidente no processo democrático local, acreditando-se que uma democracia saudável carece de debate político de fundo.

Não chega à sociedade civil dizer que não acredita nos políticos partidários. Não pode uma sociedade civil evoluída e madura do ponto de vista democrático, alhear-se permanentemente dos desafios vindouros, logo "hoje" em que o nosso mundo sofre transformações a uma velocidade alucinante. É mau para a sociedade civil estar permanentemente receosa de opinar, de criticar ou de sugerir. É mau que depois de 34 anos de democracia, numa fase de plena consolidação da mesma, continuemos amarrados ao receio de pensarmos, de falarmos, de criticarmos. É pois desejável que a sociedade civil goleganense desperte para os interesses da coisa pública, que perceba de vez que no modelo administrativo em que vivemos os problemas se resolvem pela via da intervenção política. É tempo da nossa sociedade deixar de estar arreigada, neste particular, a um provincianismo confrangedor. Não falo naturalmente nas "críticas de café", mas em algo bem mais lato do que isso.

Como resultado desta inoperante veia de debate social e político, a sociedade civil não faz mais que proporcionar o aparecimento daquilo que mais criticam, o partidarismo político das instituições públicas locais.

Como se isto não bastasse, juntemos-lhe um desequilíbrio enorme de forças ao nível da representatividade nos órgãos de poder local, que produz justamente a construção dos partidos pelo exercício do mesmo. Salvo honrosas excepções, os partidos mais organizados, mais preparados sob o ponto de vista organizacional são os que executam o poder. Alimentam-se dele, crescem dele e não resistem à tentação da instrumentalização. Tornam-se em partidos de eleitores e deixam de ser partidos de militantes. Concentram as decisões nos órgãos de poder e retiram-nas do campo mais puro de debate preliminar. Mas quando deixam se ser poder, definham, quase desaparecem não fora a boa vontade e a persistência de um par de militantes mais interessados. A sociedade civil também tem responsabilidades. Não é só a comunidade política.

Por um conjunto de razões, abrem-se hoje cada vez mais espaços para a intervenção cívica na política. Uma intervenção cívica apartidária, cuja focalização dos interesses se cifra bastante mais além dos interesses partidários e a um conjunto de regras e imposições das estruturas.

Mas esses espaços revelar-se-ão totalmente inócuos se não forem devidamente preenchidos.

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