terça-feira, 29 de setembro de 2009

CONTAS FEITAS

Não tinha ainda tido a oportunidade de comentar, mas cá estou. Alguns pontos daquele que é o meu olhar sobre o acto eleitoral recente:

1 - Nunca me dei bem com a ideia de ser possível em eleições existirem vários vencedores, no sentido estrito do termo. Na noite de domingo dei conta a dado momento que eram tantos os vencedores que tive que rever os resultados para me esclarecer. O vencedor das eleições foi o PS. Ponto final. Teve mais votos que todos os outros e elegeu mais deputados que todos os outros. Ganhou. Sem prejuízo do antes escrito, é lógico que outros partidos alcançaram bons resultados, face aos objectivos de cada um que não passavam naturalmente por vencer as eleições. Alcançaram bons resultados, mas não ganharam.

2 - O CDS-PP teve um excelente resultado, "roubando" directamente ao PS meia-dúzia de deputados e reforçando de forma bastante relevante a sua representatividade na AR. Interessante (e já agora importante) o facto de ter ficado à frente do BE. Além do PSD, é a única força política que pode viabilizar sozinha um Governo de maioria parlamentar com o PS. Uma campanha barata mas muito bem orientada politicamente, com 4/5 "bandeiras" importantes. Passou bem a mensagem política e a do seu líder. Emídio Rangel considera o CDS-PP como "barriga-de-aluguer" de votos de insatisfeitos do PSD e PS. Veremos de futuro se assim é.

3 - O BE foi o partido que mais cresceu. Conseguiu mais 200.000 votos (aprox.) e duplicou o número de deputados. Contribuiu decisivamente para tirar a maioria absoluta ao PS e ficou à frente da CDU. Só o CDS-PP lhes estragou uma noite perfeita. Ainda assim e não obstante o excelente resultado, ficou aquém de algumas previsões que chegaram a dar-lhe 20 deputados. O BE tem crescido de forma sustentada, tendo nestas eleições em concreto beneficiado da agitação social motivada pela crise económica e por algum desacerto do PS. Parece-me que estará perto do limite do seu potencial de crescimento, mas o futuro demonstrará se assim é.

4 - A CDU teve um discurso pouco consentâneo com a realidade, após o apuramento dos resultados. Passou de 3ª força política na AR para 5ª e última, pese embora ainda assim tenha conseguido eleger mais um deputado e reforçar ligeiramente o seu eleitorado. Apesar de tudo tem ainda um peso político que me parece superior ao do BE, fruto da sua participação e influência sindical e das autarquias onde detém o poder local, ao contrario da outra força comunista, que resume a sua acção à actividade parlamentar.

5 - O PSD foi sem dúvida o maior derrotado destas eleições. Acima de tudo por ser a única alternativa que teria possibilidades de derrotar directamente o PS. Falhou nesse objectivo, ficando apenas com o consolo de ter reforçado a sua representatividade parlamentar (em princípio mais 8 deputados), conseguindo apenas mais 6.000 votos que em 2005 com Santana Lopes. Preocupante a forma como viu os votos dos insatisfeitos com o Governo optarem por outras soluções que não aquela que seria à partida a única alternativa de poder. E o que falhou? Falharam seguramente muitas coisas, resultantes de uma complexidade grande de conjuntos diversos de circunstâncias. Mas daquelas que me parecem mais evidentes, destacaria estas: a "política de verdade" estava a ser um slogan bem conseguido até determinado ponto; a inclusão de António Preto e Helena Lopes Costa foram as primeiras beliscadelas; ainda que por razões que naturalmente desconheço e que por isso não posso comentar, o afastamento de algumas figuras, como Passos Coelho e Miguel Relvas foram mais maléficas do que benéficas; as directrizes traçadas para o desenvolvimento da campanha eleitoral são bastante discutíveis; a forma ingénua como o PSD reagiu ao caso (agora da moda) das escutas ao Palácio de Belém, teve consequências negativas, nomeadamente nos indecisos; a "asfixia democrática" e o TGV foram bandeiras mais agitadas que algumas das propostas políticas diferenciadoras e, finalmente, a imagem da líder não passou. Julgo que todos lhe reconheceram qualidades inquestionáveis, mas não entenderam que fosse melhor primeira-ministra que Sócrates. Na minha óptica, lamentavelmente.

6 - O PS venceu as eleições e por isso é o grande vencedor. Ainda assim exagerado o discurso de Sócrates ao considerar esta como uma "extraordinária vitória", quando perdeu mais de 1/2 milhão de votos e mais de duas dezenas de deputados. O PS está agora obrigado a fazer acordos (á esquerda e/ou à direita) parecendo-me que optará por acordos pontuais, em função das matérias na "ordem do dia". CDS-PP e CDU afiguram-se como potenciais parceiros, mas a gestão não irá ser fácil. José Sócrates, mesmo depois de todas as polémicas onde se viu envolvido (justa ou injustamente, não interessa para o caso), demonstrou que é um político duro, como especial apetência para estes momentos. A sua imagem passou bem melhor que a de MFL. (outra vez) Na minha óptica, lamentavelmente.

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