quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

PROGNÓSTICOS SÓ NO FIM

Ficou famosa e célebre a frase do grande capitão João Pinto, do FC Porto, quando os futebolistas, salvo honrosas excepções, raramente não se enganavam até a pronunciar o próprio nome. Fez história, pelo caricato da afirmação, mas a verdade é que tem sido usada nas mais variadas vertentes. José Sócrates não disse tamanho disparate, mas fez pior.

Quando em 15 de Outubro de 2008, o Governo apresentou o Orçamento do Estado para 2009 todos os números e pressupostos nele contidos estavam já totalmente desadequados da realidade. Disseram-no especialistas reputados de todas as correntes políticas. Disse-o a oposição em peso. José Sócrates, o chefe do executivo, teimou contudo em não rever e/ou alterar o OE'2009 numa virgula que fosse (será que queria mesmo que o Presidente da República vetasse o OE'2009???).

Na passada sexta-feira, dia 16 de Janeiro de 2009, lá apresentou aquilo a que chamaram de orçamento suplementar, que na verdade não passa de um orçamento rectificativo. Sócrates deu razão a quem não quis dar. Só que foi só quando ele quis e não quando foi chamado "à pedra". Sócrates é assim. Ao contrário do homónimo grego, este só sabe que tudo sabe.

Mas como Outubro já passou e já ninguém se lembra de tais manobras de diversão, eis que surgem agora outras que me deixam confuso. Vejamos: Em matéria de crescimento económico, o Governo prevê para 2009 um decréscimo de 0,8%, estimando que o crescimento venha a ser retomado em 2010 (0,5%). Tendo em conta o pequeno detalhe do nosso País desde 2000 não crescer acima da média da União Europeia (a 27) e, não menos relevante, sabendo que os Governos espanhol e alemão previram que as respectivas economias nacionais baixem 1,6% e entre 2% e 2,5%, respectivamente e sabendo-se ainda que são dois dos principais destinos das nossas exportações (representam cerca de 40%), como será então possível o crescimento previsto pelo Governo? Pela debilidade actual da nossa economia, manifestamente estrutural e não apenas conjuntural como querem agora fazer crer, pelos estudos e previsões apresentados pela Comissão Europeia e pelo The Economist, não me parece expectável que consigamos resolver internamente o problema, conseguindo atingir a marca sugerida pelo Governo. Lá está. Não é filósofo, não é grego - apesar de se ter visto grego nesse entrevista - mas a frase do grande capitão é extraordinariamente contemporânea!

Já quanto ao desemprego, dizem os especialistas que as alterações no mercado de trabalho andam normalmente desfasadas do crescimento económico num período entre 9 a 18 meses. Logo, se temos uma previsão de decréscimo da economia para 2009, como aparece no OE uma previsão do crescimento do emprego, ou queda do desemprego, de 8,5% em 2009 para 8,2% em 2010 e 7,7% em 2011? A CE e o The Economist, prevêem que já em 2010 o desemprego possa ultrapassar o número assustador de 9% da população activa nacional. Mas esses coitados, sabem pouco disto.

Quanto às projecções do défice, confesso que nem me preocupam nada, se comparadas com as situações que acima enunciei. Só tenho algumas saudades dos socialistas que diziam, alto e bom som "HÁ VIDA PARA ALÉM DO DÉFICE", numa altura em que não cumpri-lo, convém dizê-lo, acarretava para Portugal graves penalizações.

Mas aguardemos. É que prognósticos só no fim.

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