sexta-feira, 30 de maio de 2008

ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA NA GOLEGÃ

Fruto de uma estratégia, em determinado sentido conseguida pelo poder local, foi-se criando um clima saudável e atractivo de captação de algum investimento imobiliário, que é inevitável reconhecer. A estratégia da auto-elevação da Golegã a "Capital do Cavalo" a par do dinamismo promocional do potencial da nossa terra, trouxeram de facto alguns investidores que viram aqui condições para implementar algumas iniciativas. Isso é inegável e mérito de quem promoveu e desenvolveu esta estratégia.

Destaca-se deste investimento o ramo imobiliário habitacional, começando a notar-se, até dado momento, alguma insistência na promoção de habitação colectiva, que entretanto parece esgotada. As habitações de carácter unifamiliar começaram também a aparecer com mais densidade, enquanto obras novas, sendo no entanto muitas destinadas a segunda habitação, tendo por isso um impacto temporal limitado na economia da vila, quer em receita directa e indirecta para o município, empresários da construção, etc. Já as actividades comerciais acabaram por ter ganhos meramente residuais, dado que as ocupações dos imóveis são sazonais e por pouco tempo.

Mas numa terra pouco habituada a variações imobiliárias, rapidamente se induziu a ideia de que tudo na Golegã veria exponencialmente aumentado o seu valor comercial, transportando-nos para uma esfera de especulação, até agora, quase incontrolável.

Até que os primeiros indícios apareceram, com os investidores a procurarem "casas velhas" e pequenas, para poderem ter a sua segunda habitação na Capital do Cavalo a custos bem mais moderados, o que fez disparar também os valores "comerciais" de imóveis altamente desvalorizados, pelas suas características diversas.

O Município decidiu não alterar a sua estratégia, o clima especulativo manteve-se inalterado. Só que o "mercado" na vila é curto, a população não cresce e os activos procuram outras paragens, também devido, diga-se, à actual conjuntura económico-social que se vive no País. Este êxodo não é naturalmente exclusivo ao nosso Concelho, mas a quase todos com caracterização similar, quer económica, quer ao nível da sua interioridade e falta de dinamização empresarial.

O esgotamento do mercado associado a um clima demasiado hostil em termos económicos, em especial num Concelho com uma classe média reduzida, levou a que o investimento imobiliário abrandasse, mantendo-se ainda assim, como quem espera por uma solução salvítica milagrosa, o clima de alta especulação.

"Pedem-se" já hoje valores superiores a 250,00€/m2 por "lotes" altamente limitados sob o ponto de vista da confrontação com edificações existentes, tornando difícil a promoção de habitação com uma integração minimamente cuidada. Sei até das tais "casas velhas" que já se pretendem vender por valores superiores a 500,00€/m2, cujo estado de degradação é tal, que só uma demolição total permite uma qualquer solução para novo aproveitamento.

Mais grave, transaccionam-se terrenos em zona industrial acima dos 50,00€/m2 (!!), que retira a qualquer investidor todas as veleidades que possa ter em instalar aqui o seu negócio.

Este clima de especulação que teima em persistir e que nos retira competitividade em relação aos "mercados" análogos de Concelhos limítrofes, alguns mais dotados de condições de "atracção" de nova população, não só meramente geracional, mas também de carácter migratório.

Hoje e apenas por curiosidade comparativa, fica mais barato adquirir um lote na Urbanização do Bonito no Entroncamento do que na área urbana da Golegã, com todas as condições que um e outro espaço possam proporcionar aos seus novos habitantes, bem como as estruturas diversas de proximidade, como seja acessos rodoviários, ferroviários, comerciais, empresariais, industriais, serviços, etc. Ainda admitiria este clima especulativo, caso fosse provocado por uma redução da oferta e simultânea manutenção dos níveis de procura, relação que normalmente conduz a uma situação dessa natureza. Mas infelizmente não é o caso.

Este "fenómeno" permitirá seguramente dois tipos de leitura sob o ponto de vista político e estratégico: por um lado irão alguns dizer que a especulação é fruto de uma incessante procura e que traduz a valorização da estratégia de desenvolvimento promovida e ainda que aos governos locais não cabe a regulação dos mercados, livres, imobiliários, de iniciativa privada; outros acharão que a estratégia de desenvolvimento seguida nos últimos anos, com charme mas sem um imprescindível suporte ao nível da promoção do tecido económico, estará gasta e necessita de um rápido «redireccionamento» na procura de equilibrar os «pratos da balança».

Cada um terá a «sua verdade».

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