segunda-feira, 24 de março de 2008

A SUPERIORIDADE MORAL DO PS

Tenho lido nos últimos dias uma obra literária de bastante bom gosto e fundamento ideológico, cujo nome poderia ser mas não é "A superioridade moral do PS". Nessa magnífica obra, fiquei a saber porque não sabia, que a política afinal deve ser encarada como coisa dogmática, onde a liberdade de expressão existe e é aceitável se for a favor das "sagradas escrituras socialistas". Fiquei também a saber porque não sabia, que aquele que individualmente ousar opinar, sugerir e analisar por "conta própria", ainda que sem a cápsula protectora de qualquer partido ou movimento organizado, corre o risco de, na dita obra, ser criticado e julgado e a sua alma ser enviada para a guerra, com outras almas pecadoras, claro.

Prosseguindo. Ao ler a obra, fui também aprendendo alguma coisa sobre história política mundial, nacional, regional e local. Fui também ficando a saber que o PSD afinal tem uma certa tendência para estender o tapete aos comunistas!! E que os comunistas afinal, até nutrem uma certa simpatia pelos sociais-democratas, ideologicamente hoje mais sociais-democratas liberais (mas isso são contas de outro rosário). E fiquei contente, porque eram coisas que não sabia. Andava eu para aqui a pensar que as "frentes de esquerda" criadas em diversas ocasiões, por exemplo na Câmara de Lisboa, para derrotar o PSD, fonte de todos os malefícios do mundo moderno, como agora sei, haviam sido estratégica e ardilosamente montadas pelo PS e pelo PCP! Idiota! Claro que não!

Também fiquei a saber que os movimentos sociais-democratas europeus, incluindo o caso de Portugal e, pasmei quando soube, o da Golegã, devem ser alvos de análise evolutiva conjunta naquilo que é sua matriz ideológica de base e prossecução do seu capital político, sem que dela se faça qualquer diferenciação. Pensava eu que o movimento social-democrata português havia divergido significativamente dos seus congéneres europeus, em especial dos nórdicos, já que "à nascença" o PSD de cá (de Portugal, claro) foi colocado perante cenários totalmente diferenciados dos outros (por um lado a luta contra um regime totalitário de direita - talvez se lembrem da "Ala Liberal" e de Francisco Sá Carneiro - e por outro a eminente possibilidade da instauração da "ditadura do proletariado", sustentada no modelo soviético), tendo inclusivamente integrado, como integra hoje, uma "família" política no parlamento europeu diferente daqueles.

Também fiquei a saber que já desde a década de 60, o PSD tem sido o grande mal da sociedade e o principal foco de incoerência político-ideológica. E pensava eu que o PSD ainda não existia na década de 60!

Mas também aprendi que o PS tem sido, desde a sua fundação e até hoje, um modelo de coerência política. Nunca foi marxista, depois nunca foi socialista e hoje não é, ideologicamente, social-democrata. Porque passar de princípios marxistas para uma visão liberal social e até económica, é coisa de pouca importância. É daí que deve advir o título da obra.

Mas aprendi mais coisas. Aprendi por exemplo, que aqueles que se tornam dissidentes ou ex-qualquer coisa, jamais se podem juntar em torno de um objectivo comum, porque isso afinal acaba por torná-los invertebrados. Contudo também aprendi, por dedução, que há excepções a esta regra. Exemplos: Dr. Sousa Franco; Engº José Sócrates; Prof. Freitas do Amaral; Engº Luis Godinho; Engº Mário Lino; entre outros. Porque estes têm algo que os outros não têm: superioridade moral. Porquê? Porque sim!

Também aprendi que a credibilidade política advém da coerência de princípios. É como quem diz em linguagem simplória, como a minha, que não se deve voltar atrás numa decisão anunciada. Quem muda de opinião também pode ficar sem vértebras! Exluem-se, novamente por dedução, os seguintes casos: alteração do aeroporto da Ota para Alcochete; alteração de tomada de posição quanto às SCUTS; alteração da promessa de não subir impostos; alteração da opinião sobre a recolha de resíduos de óleos alimentares; alteração da posição sobre a ampliação da extensão de saúde de Azinhaga. Nestes casos não se trata de fazer fluir as decisões ao sabor dos ventos. Não sejam mal intencionados. Porque para isto é preciso ter algo que poucos têm: superioridade moral!

Também aprendi que uma guerra também pode não ser exactamente uma guerra. Depende! Se for entre Martins Lopes e Manuel Madeira é. Se for entre Víctor da Guia e Veiga Maltez não é. Se for entre Luis Filipe Menezes e Luis Marques Mendes é. Se for entre Manuel Alegre e José Sócrates não é. Depende. Da superioridade moral!

Ainda não li tudo e sei que vou encontrar novos capítulos. Talvez respostas e comentários a escritos alheios.

Será?

1 comentário:

Anónimo disse...

A obra literária a que te referes, José, é só parcialmente original.

Do material que por lá se derrama, por entre blocos necessariamente originais (distinguem-se pela prosa), outro há que já tinha lido algures...

INFOPEDIA: Vinte e Cinco de Abril de 1974
© 2003-2008 Porto Editora
Vinte e Cinco de Abril de 1974. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2008. Disponível na www: URL http://www.infopedia.pt/$vinte-e-cinco-de-abril-de-1974.


DN ONLINE: O discurso da vida de Soares no comício da Fonte Luminosa
Copyright @ 1995/2008 Global Notícias, SA Todos os direitos reservados

Ainda parafraseando a "magnífica obra", e no que se refere à "descrição histórica" dos anos do PREC, apetece-me dizer que "Filtrar a História é um acto de demagogia".

Não li por lá que em 1973, o PS declarava como objectivos a "edificação em Portugal de uma sociedade sem classes", considerando-se "herdeiro de toda uma tradição de luta das classes trabalhadoras pelo socialismo", pedindo uma "democracia directa de co-gestão fundada em conselhos operários", exaltando a excelência "das revoluções chinesa, jugoslava, cubana e vietnamita"!

Querem, isso sim, fazer esquecer que foram Mário Soares e o PS os responsáveis pelo deslize esquerdista do 25 de Abril! Porque foi esse o efeito da exaltação que Soares fez a Cunhal no 1º de Maio de 74, do discurso radical pedindo "saneamento e castigo exemplar" para os antigos servidores do Estado Novo, da exigência por controlo operário, pela reforma agrária e pelas nacionalizações, foi tudo isso que deu alento ao PCP!

Já esqueceram a célebre palavra de ordem "Partido Socialista, Partido Marxista"? O PS colaborou com o PC e com a extrema esquerda até Março de 1975, altura em que se apercebeu que iria ser cilindrado, se não fizesse marcha à ré (ou desviasse à direita?) rapidamente e em força!

Quanto à história do PSD lá "divulgada", vem-me à memória outra frase, lida por aqui perto, quiçá dos mesmos autores: "quem fala do que não sabe, corre o risco de escrever verdadeiras teses de idiota".

Querem evidentemente que se esqueça o papel da Ala Liberal antes do 25 de Abril onde militavam Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto Balsemão, Mota Amaral e Magalhães Mota, entre tantos outros, que já no projecto de revisão constitucional apresentado em 1970 defendiam "a abolição da censura e a proclamação da liberdade de imprensa, a eliminação dos entraves administrativos à liberdade de associação, a extinção dos tribunais plenários onde se fazia a paródia de julgamento dos presos políticos, a proibição das medidas de segurança sem termo certo, medidas que, aplicadas aos mesmos presos políticos, acabavam por se assemelhar à prisão perpétua, a limitação da prisão preventiva sem culpa formada a um prazo máximo de setenta e duas horas, a inclusão do direito ao trabalho e do direito à emigração na lista dos direitos fundamentais, o reforço dos poderes da Assembleia Nacional e a modernização dos seus métodos de trabalho, a restauração do sufrágio universal para a eleição do Presidente da República, a proibição do veto presidencial às leis de revisão constitucional". Isto é, defendiam um democracia de modelo europeu ocidental. Em 1970.

A confusão que por lá impera entre socialismo democrático, social-democracia, liberais, sociais-liberais, conservadores-liberais, é confrangedora. Mas entende-se, dado o estado actual do PS, que depois de "enfiar o socialismo na gaveta" é o mais visível representante da social-democracia em Portugal! Uma crise de identidade, é o que é...

Abraço,

Carlos Simões

fontes: Alameda Digital, DN Online