terça-feira, 18 de março de 2008

PS/GOLEGÃ - a sua construção pelo poder local

Abordei à tempos, em 22/02/08 no artigo "Campanhas Eleitorais - os primeiros indícios" a questão da construção dos partidos pelo poder e a sua consolidação através do exercício do mesmo. Perante os últimos acontecimentos parece-me oportuno voltar a esta questão, focalizando o tema no contexto local.

Olhando para a história dos partidos com maior implantação local, como são os casos do PCP, PS e PSD, cada um, com as suas características próprias e sob condições circunstanciais diversas, tem vindo a evoluir e a consolidar-se de forma necessariamente diferente. Focalizando, para já, a questão no PS, este tem sido, num contexto local, construído assente em dois factores determinantes: um, de alguma forma natural, com rápida implantação após Abril de 74, fruto das idiossincrasias próprias do eleitorado e da sua condição socio-ideológica, de matriz vincadamente rural, cuja subsistência residia maioritariamente, à época, no sector primário.
Numa fase inicial, debateu-se com a força emergente do PCP, saindo ainda assim vencedor das eleições para a Assembleia Constituinte em 1975, derrotando o seu adeversário de então por esmagadora maioria (44% contra 22%), sendo que os primeiros indicadores, logo nessa altura, começaram a revelar a força do eleitorado comunista em Azinhaga, o seu ainda grande bastião concelhio. Aí, os resultados foram bastante mais equilibrados (42% contra 37%).
Volta e vencer em 1976 em eleições para a Assembleia da República, mas perde em Azinhaga para o PCP. Em 1979, passa para terceiro lugar, tendo o seu primeiro revés eleitoral, ficando atrás da AD, vencedora nas legislativas no Concelho e da APU. Só em 1995, 16 anos depois, volta a vencer eleições legislativas, repetindo o "feito" em 1999, 2002 e 2005, na fase de consolidação do seu eleitorado, coincidindo também com a gradual perda de influência do PCP. Mas é em sede de eleição autárquica que assume mais predominância. Desde 1976 a 2005, em 9 eleições, o PS só perdeu 2, em 1989 e 1993, tendo saído vencedora a CDU e eleito Presidente da Câmara o Dr. Manuel Madeira. Hegemónica portanto a vantagem do PS em eleições autárquicas.

Isto transporta-nos para o segundo factor - a construção do partido (PS) pelo poder (local). Porque quando em oposição revelou pouquíssima apetência para a função, desagregando-se e desorganizando-se, tal como o actual Presidente da Câmara testemunha no seu livro, "Entre a razão e o coração - dilemas de um médico-autarca", necessitando inclusive da intervenção do próprio para que lhe fosse introduzido método e organização.
Assim, o PS tem, através do exercício do poder político, partidarizado as estruturas de poder local, com intenções hegemónicas, atribuindo aos seus (partidários) previlégios de controle do espaço público, procurando garantir o monopólio da acção política na tentativa de fragilização dos seus oponentes e visando a eternização no poder local. O PS-Golegã é hoje, mais que um partido de militantes, um partido de eleitores.
Estes mecanismos de controle, de que são exemplos a desproporcionada quantidade de vereadores em regime de permanância, visando o seu tirocínio e a sua preparação para confrontos futuros; as alterações introduzidas ao regimento da assembleia municipal visando a diminuição da intervenção pública incómoda, são cada vez mais evidentes e, a terem sucesso, diminuirão de forma perigosa os espaços das alternativas nas suas formas de representação, retirando o necessário equilíbro e controle das oposições que por si só e perante tal cenário, verão cada vez mais dificultadas as suas acções. Acresce a "viragem" para uma tendência populista, com o aproveitamento de mecanismos de comunicação municipal para a "construção" da sua imagem.

Cumprimentos,

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