sexta-feira, 7 de março de 2008

PSD - LIDERANÇA DE MENEZES AMEAÇADA?

O PSD não pára de ser notícia. Depois da recente polémica intervenção do líder do Partido, Luís Filipe Menezes, no sentido de acabar com a publicidade na RTP, para alegadamente promover a exclusividade do serviço público, que motivou uma intervenção do antigo ministro da presidência do Governo PSD/PP, Nuno Morais Sarmento, classificando essa intervenção como "avulsa e não reflectida", sabendo-se que as receitas de publicidade estão afectas à liquidação da dívida da RTP, surge agora um movimento de discordância de dez antigos secretários gerais do partido, face às alterações que Luís Filipe Menezes quer impor nos seus regulamentos.

Em carta enviada ao presidente do congresso e do Conselho Nacional, Ângelo Correia, dez ex-responsáveis pelo "aparelho" do PSD afirmam que causa genuína e profunda perplexidade que Menezes avance com soluções que interrompem um conjunto de regras marcadas pela preocupação de garantir clareza e transparência na vida interna. Os signatários estiveram em funções desde as lideranças de Francisco Sá Carneiro até à de Luís Marques Mendes.

Esta manifestação de discordância e protesto, é inédita na história do PSD, põe em causa aquela que foi uma das medidas mais emblemáticas de Menezes na campanha das últimas eleições directas contra Marques Mendes.

Para além das mexidas no regulamento financeiro, os antigos secretários-gerais criticam o "modo apressado como se pretende conduzir o processo, impedindo as estruturas e os militantes do PSD de participarem na discussão e de darem contributos que possam melhorar, em concreto, as regras hoje em vigor". Na prática, o grupo vem juntar-se a Miguel Relvas (secretário-geral com Durão e com Santana, mas indefectível apenas do barrosismo), o primeiro a movimentar-se e que tinha já considerado que a reforma estava a ser feita "à socapa".

Amândio de Azevedo, António Capucho, Manuel Dias Loureiro, José Falcão e Cunha, Eduardo Azevedo Soares, Carlos Horta e Costa, José Luís Arnaut, Miguel Relvas e Miguel Macedo estão lado a lado com um outro ex-secretário-geral (de Marcelo, com quem se incompatibilizou por causa da refiliação), que é nada mais nada menos do que Rui Rio, tido como potencial adversário de Menezes e como o líder preferido das alas cavaquista e barrosista.

Ao interpelarem directamente Ângelo Correia - e não Menezes, veja-se -, os signatários pedem-lhe para que actue "de viva voz" e dê conta das preocupações do grupo ao Conselho Nacional. Mais, os antigos secretários-gerais sugerem que Ângelo Correia use as preocupações manifestadas na sua intervenção para que "se possa chegar a uma decisão que sirva adequadamente os interesses do PSD". A solução proposta passa, segundo o "grupo dos dez", pela "fixação de um prazo razoável para o debate interno".

Será que Menezes, que foi eleito em "directas" com esta proposta de alteração, acolherá a sugestão de adiamento, permitindo o debate interno? Não creio.

Contudo, não se deve relativizar este manifesto, que poderá abalar de forma significativa a consistência do líder do Partido. É importante reter, que "o grupo dos dez" representa de forma abrangente todas as facções e tendências internas do partido, tendo por isso um peso específico demasiado grande para se poder desprezar.

Na carta enviada a Ângelo Correia, realço uma frase que pode assumir-se como bastante importante: "não se realizarão, nos próximos meses, eleições internas no partido". Será que os signatários não excluem a possibilidade de eleições internas no prazo de um ano ou daqui a vários meses, já que a expressão usada é "nos próximos meses"? E entre duas vírgulas! Será Menezes realmente o próximo "candidato a primeiro-ministro"? Estará a sua liderança ameaçada? São perguntas que deixo à vossa consideração.

Numa altura conturbada no país, onde se agravam os problemas sociais, onde se acentuam as manifestações de protesto populares, transversalmente a diversas áreas, era suposto que o PSD aparecesse melhor posicionado como alternativa ao Governo.

Mas como o próprio líder publicamente reconheceu, o PSD ainda não o merece.

2 comentários:

MGomes disse...

Com todo o respeito que este artigo de opinião me merece, acho que enquanto o trabalho politico que José Sócrates está fazendo, não terminar, não haverá alternativa possível ao seu governo. Depois..., lá chegará a vez do PSD, mas não com Luis Filipe Menezes! No momento certo, o Poder económico, "escolherá" a personalidade indicada para ocupar a cadeira do ciclo pós Sócrates!

Um Abraço

Anónimo disse...

Caro Manuel Gomes,

Pode ter razão no que diz. De facto a história eleitoral recente mostra-nos que os dois partidos do centro vão alternando a responsabilidade de governar, em função das mais diversas variantes, decorrentes não só dos resultados governativos de um, mas também da capacidade de mobilização do outro, que está em oposição.

Naturalmente que a imagem de credibilidade do líder desse, o da oposição, em contraponto com a do líder do governo, assumem sempre carácter decisivo nas escolhas dos eleitores.

Mas do que diz, permita-me destacar a relevância da alusão à intervenção do poder económico da escolha do líder da oposição. Numa sociedade cada vez mais capitalista, ainda que encapotada por um "socialismo moderno", inquieta-me que essa possibilidade não passe disso mesmo.

Um abraço.