quarta-feira, 26 de março de 2008

SÍMBOLO E HISTÓRIA

A propósito da recente polémica em torno dos "retoques" na imagem do PSD, falaram alguns de um processo de descaracterização contínuo, culminando agora na seta laranja sobre fundo azul. Importa referir que esses "retoques" têm vindo a ser dados ao longo dos últimos anos da história do PSD.

Foram iniciados sob a liderança de Cavaco Silva, com o "arredondar" das arestas das três setas que simbolizavam o partido desde a sua fundação. Prosseguiram com Durão Barroso, na substituição das ditas por apenas uma, "estilizada", ou como Pacheco Pereira a apelidou, pela "setinha rabiante". A alteração da simbologia não é, como se sabe, inovação do PSD. Outros partidos havíam já seguido a via da remodelação da imagem, fruto da inclusão do marketing na política e no tratamento da sua imagem como produto "vendável".

A questão que coloco é: esta remodelação de imagem coloca em causa a história, o fundamento ideológico e os princípios básicos fundamentais do partido? Não vou tão longe, mas atendendo à génese fundadora do partido e à sua matriz ideológica, especialmente híbrida, julgo que seria prudente e desejável a manutenção da simbologia original. Acho que o PSD não "vende" melhor a sua imagem alterando-a, porque a sua história "vende-se" por si mesma.

O PSD tem um passado digno, relevante e importante na democracia portuguesa. Não vejo razão aparente para a alteração da sua imagem. Importa pois recordar a história do símbolo e das cores adoptadas pelo PSD aquando da sua fundação: A origem das setas advém do movimento de resistência na Alemanha, de que faziam parte os social-democratas, contra os nazistas, comunistas e monarquistas. Os resistentes alemães usavam as três setas para estragar o efeito da cruz suástica (ou gamada). As três setas eram de um modo geral desenhadas de cima para baixo. As mesmas significavam por parte dos fundadores do PSD a procura de uma fonte de legitimidade e diferenciação política para o partido, desconotando-a de uma raiz marxista, que não tinha, (como tinham o PCP e o PS), nem conservadora. Essa procura resultou numa concepção algo híbrida muito peculiar, fluindo entre o personalismo cristão, sustentado na doutrina social da igreja, o liberalismo político e a social-democracia. Esta é a génese do PSD. A "modernizarem-se" as setas que se "modernizem" as três e não uma. Alguns exemplos da origem das três setas:

Quanto à cor laranja, que se saiba não existiu uma razão especial para a sua escolha. Consta que surgiu apenas por não haver outra disponível, assente também no facto de não se querer utilizar as adoptadas por outros partidos. A partir daí, o laranja fundiu-se com o próprio PSD.

Para os sociais-democratas de Portugal, a simbologia adoptada reflecte o seguinte: três setas, que representam a liberdade, a igualdade e a solidariedade, que significam que a verdadeira democracia só existe na verdade se for simultaneamente política, económica e social. Quanto às cores das mesmas: o negro, invoca os movimentos libertários do século passado; o vermelho recorda a luta das classes trabalhadoras e dos seus movimentos de massa; o branco invoca os valores do Homem, a tradição cristã e humanista, consubstanciada no personalismo. Este é o verdadeiro símbolo do PSD:


Cumprimentos,

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