sexta-feira, 22 de maio de 2009

RESUMO DO PORTUGAL DE HOJE

Da breve passagem em revista dos diários de hoje deixo-vos alguns apontamentos de notícias sobre justiça e economia. Lá que a crise económica tenha a sua quota parte de conjuntura internacional, estamos todos de acordo. E este dantesco estado da justiça portuguesa, é culpa de quem? Querem ver que é minha?!

Se conseguirem, tenham um fim de semana descansado.

5 comentários:

MGomes disse...

Permita-me a ingenuidade, ou talvez não, da pergunta que vou formular a propósito de outras que por aí circulam sobre a eventualidade da formação de um governo de bloco central PS/PSD: Em Portugal, desde 1976, alguma vez deixou de haver bloco central ao mais alto nível governamental? Estiveram no governo alternadamente, é um facto, mas não foi essa a formula encontrada para, para institucionalizar de rosa o sistema democrático em que vivemos!!!! Se é o poder económico que alavanca a sociedade, alguma vez este esteve politicamente do lado do PS, enquanto este foi governo e outras do lado do PSD, pela mesmas razões?
Ok, a pergunta é no sentido da fórmula partidária tendo em vista uma solução de governo, mas todos sabemos que familiarmente os dois partidos políticos nunca deixaram de lá estar!

Um abraço!

José Godinho Lopes disse...

Muito bom dia e desde já as minhas desculpas pelo feed-back tardio.

Não comungo inteiramente da sua opinião, já que em alguns periodos do pós 25 de Abril, PS e PSD estiveram em campos bem divergentes no que diz respeito às estratégias de fundo para Portugal. Aliás, basta recordar a época do "cavaquismo", que durou 10ou 11 anos (cerca de 30% da nossa democracia) e relembrar o PS enquanto oposição, face ao posicionamento e acção do PSD de então. Nessa perspectiva e nessa época em especial não houve, em meu entender, bloco central, nem quanto à "coligação" de facto, nem quanto ao âmbito das políticas, nem quanto à convergência de posições relativas a matérias fundamentais e estruturantes.

Agora é preciso perceber quem se "deslocalizou" no espectro político nacional, se foi o PSD que chegou p'ra lá, se foi o PS que se chegou p'ra cá.

A evolução dos mercados financeiros e outros, com a liberalização total, com os efeitos da globalização, juntando-se a isto a inoperância dos Estados (e dos seus governantes) em procederem à imprescindível regulação e fiscalização, levou a que realmente o poder económico fosse entrando de mansinho no poder político, sendo óbvio que os partidos que têm sido os detentores do poder, não têm conseguido evitar a prática dos mesmos pecados.

Quando diz que os dois partidos nunca deixaram de lá estar, deduzo que se refira aos "históricos" PS's e PSD's que, não obstante não partilharem o poder político, partilham o poder económico, assumindo funções diversas em altos quadros de grupos económicos relevantes e até de organismos do Estado. Aí caro Manuel Gomes, os factos falam por si.

Cumprimentos e bom fim de semana.

MGomes disse...

Boa noite!

É evidente que eu apenas quis, com o meu anterior comentário, ilustrar na óptica do cidadão comum, de que efectivamente os dois maiores partidos políticos portugueses têm governado o país praticamente desde o fim do gonçalvismo. Com os então formados governos provisórios de intervenção presidencial e depois já na fase da constituição de governos pela via eleitoral.
Bem sabemos que ambos os partidos foram alternadamente poder e oposição, mas o que fica, sob o ponto de vista de quem entende não haver grandes diferenças políticas de fundo nos dois partidos, é que eles sempre lá estiveram! E depois a questão do poder económico! O senhor acha que só agora, há pouco tempo e com a globalização, é que o poder económico entrou de "mansinho no poder político"??!!! Permita-me discordar de si quanto a este aspecto, porque essa sua afirmação parece-me estar está bem longe da realidade portuguesa! Lembra-se de quantas empresas foram subsidiadas pelo Estado, nos anos oitenta, por estas terem "inventado" forçadamente os salários en atraso e daí terem encostado os governantes de então à "parede" com os despedimentos em massa para tirarem os seus dividendos político/financeiros? Lembra-se de quantos ministros entraram na formação de governos PS e PSD, oriundos de grandes empresas e grupos económicos? Ministérios como o da a Indústria, Turismo, Saúde, Transportes e Comunicações, Agricultura, etc, todos foram ocupados por altos quadros de grandes empresas portuguesas! Está bem de ver a "representatividade" interesseira que sempre existiu por parte do grande poder económico português nas mais altas intâncias governativas!
Acho que Saramago nunca deixou de ter razão quando no seu discurso da cerimónia do Prémio Nobel em 10 de Dezembro de 1998 no Palácio Real de Estocolmo, disse: "Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não querem. Ou porque não lho permitem aquelas que efectivamente governam o mundo, as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o que ainda restava do ideal da democracia."

Um Abraço e uma boa semana para si!

José Godinho Lopes disse...

Caro Manuel Gomes,
Como vai percebendo pela mora com que vou interagindo consigo, ando de tal ordem atarefado, procurando remar "contra a crise", que a minha actividade de "bloguista" em part-time sofre e de que maneira com a falta de disponibilidade, sobretudo mental.

Estou longe de ser um expert em ciência política e até da sua história, mas parece-me que à medida que assistimos ao reforço da liberalização económica, assistimos ao mesmo tempo e de forma tendencialmente crescente uma intervenção dos próprios agentes da sociedade capitalista no poder político. Isto não significa que no passado não existam casos demonstrativos deste tipo de influências, como os que foca no seu comentário. Teríamos que recuar demais para não os encontrarmos.

De qualquer forma e prosseguindo com o tema, atendendo à opinião antes concretizada, começo por lhe dizer que não me choca absolutamente nada que pessoas entrem na formação de governos vindos de grandes empresas e grandes grupos económicos. Aliás, entre muitos e duvidosos critérios, altos quadros dessa área constituíram várias vezes mais valias inquestionáveis a diversos governos. Isso em si mesmo não me incomoda nem um pouco, incomodando-me sim que as vias que esses abrem sejam aproveitadas para travestir o poder, i.e. – passá-lo do controle político para o controle encapotado do capital. Se tomarmos em linha de conta que nesses grupos existem altos quadros com enorme capacidade, não me choca que a mesma seja colocada ao serviço do interesse público.
Permita-me um ligeiro desvio ao que debatemos mas nem por isso a despropósito, deixando-lhe como "entre-linhas" um comentário que alguém deixou recentemente no Financial Times : "You keep paying peanuts, you'll get monkeys". Talvez também a este respeito tenhamos leitura divergente.

Nesta interacção do poder político com o poder económico, choca-me sinceramente mais a inoperância dos Estados onde imperam as sociedades capitalistas, hoje generalizadas a grande parte do mundo, quanto à regulação e à fiscalização dos seus agentes, de forma a garantir questões como a equidade nas garantias sociais, na salvaguarda dos direitos dos seus concidadãos, no reforço das seus deveres. De forma a garantir no fundo uma sociedade mais justa e mais equilibrada. Mas desejo que nessa sociedade não se coloque em causa a propriedade privada dos meios de produção, a propriedade intelectual, o livre-mercado, desejando ao mesmo tempo que a redistribuição da riqueza, potenciada por mais e melhor “justiça fiscal”, seja mais eficaz.

Por isso e porque estamos de acordo em relação a algumas questões, também acho que o poder económico deva ser regulado e fiscalizado e espero que, agora depois da falência absoluta do modelo vigente, caminhemos tendencialmente para esse estágio. Só que eu acho que a corrupção e a apatia governamental face às investidas do poder financeiro não são algo que se prenda exclusivamente com questões ideológicas e doutrinárias.

José Godinho Lopes disse...

Confesso-lhe até que me começa a cansar ver a esquerda (a mais ortodoxa e porventura mais radical) em peso ter a presunção de possuir uma superioridade moral tal, que parece dona da honestidade política, da verdade inquestionável sobre esta matéria, qual dogma religioso. Porque essa esquerda, que defende modelos sustentados naqueles que foram já praticados nos quatro cantos do mundo, continua a não conseguir explicar porque raio assistimos a tudo o que assistimos quando caíram os muros e quando de abriram as fronteiras do leste europeu. Porque continua a não conseguir explicar porque a sua doutrina resulta na prática no que vamos vendo acontecer na China, ou em Cuba, ou por quase toda a América Latina. E se quisermos falar de justiça social e de exploração, esses não serão por certo bons exemplos. Só se considerarmos válida a afirmação de Saramago, que afinal o verdadeiro comunismo – ou o caminho para o socialismo – nunca existiu de verdade sob o ponto de vista da sua aplicação.

Resumindo, não acho que a solução para acabar com a influência do poder económico sobre o poder político, seja a inversão dessa perspectiva, passando o poder político de regime a controlar o poder económico.

O senhor diz e permita-me citá-lo que “Bem sabemos que ambos os partidos foram alternadamente poder e oposição, mas o que fica, sob o ponto de vista de quem entende não haver grandes diferenças políticas de fundo nos dois partidos, é que eles sempre lá estiveram!”, mas não podemos esquecer que esses têm sido eleitos (ainda que indirectamente) democraticamente, reflectindo obviamente a vontade popular. É o povo que na sua maioria tem querido até aqui fazer flutuar o poder político entre os dois partidos colocados mais ao centro.

E nestes últimos trinta anos, se encontramos coisas que nos entristecem e que nos revoltam, também já assistimos a períodos de inegável progresso e melhoria generalizada das condições de vida dos portugueses, face ao passado.

Tenha um bom fim-de-semana.

Um abraço.

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