sábado, 16 de maio de 2009

INFORMAÇÃO MUNICIPAL - a ilusão vs. optimismo

No último Golegã em Notícia, órgão de comunicação e informação oficial do município da Golegã, vinha noticiada a abertura de um restaurante, "O Barrigas", já bem conhecido de muitos de nós desde que se instalou no nosso vizinho Entroncamento. Deixem-me confessar-vos que sou fã (não um cliente tão assíduo quanto desejaria) e por isso fico contente de o ver instalar-se na nossa terra. Digo-o com sinceridade.

Mas o que me impele a escrever sobre isto foi a forma como a notícia foi apresentada, sob o título "Desenvolvimento Sustentado!".

Eu aceito e concordo que se promova o Concelho - acho até, como já aqui escrevi, que na vertente turística tem sido bem "vendido" - sob a transmissão de uma mensagem de optimismo, que se crie um cenário favorável e não desfavorável. Percebo tudo isto e aceito-o com naturalidade. Não podemos promover a nossa terra sendo, simultaneamente os profetas da desgraça. Não faz sentido querermos "vendê-la" e, ao mesmo tempo, dizer mal do nosso "produto". Isto é trivial.

O Concelho da Golegã tem porém problemas comuns a muitos outros com características semelhantes. Problemas decorrentes da interioridade, do efeito migratório das gerações mais jovens, do mesmo efeito de camadas de população mais qualificadas que, perante uma maior oferta, nomeadamente de emprego e oportunidades diversas de zonas mais desenvolvidas sob o ponto de vista económico, social, industrial ou comercial não resistem por um lado ao apelo da deslocalização e por outro à falta de respostas locais e regionais. Este não é um problema só nosso e nem tem apenas como responsáveis os governantes locais. Aliás, muitos deles (ouvi recentemente os Srs. Presidentes das Câmaras Municipais de Mação e de Ferreira do Zêzere, por exemplo, lamentarem o fenómeno da desertificação) ainda que vão lançado e implementado medidas que procurem contrariar essa tendência, para já e enquanto não se verificar uma política à escala nacional, que resulte num "repovoamento", alavancado pela sustentabilidade do desenvolvimento do interior dificilmente cumprirão os seus objectivos. Mas os que tentarem hoje, estarão mais perto disso amanhã.

A globalização também está cá dentro. E pequenos Concelhos, como o nosso, frágeis sob o ponto de vista do seu tecido económico e da capacidade de absorção do seu mercado de trabalho, são, como não podiam deixar de ser, susceptíveis ao êxodo, que se afigura como inevitável. Tenho para mim como certo, que quanto mais rapidamente os Municípios e os seus responsáveis entenderem esta realidade, mais rapidamente poderão adoptar estratégias no sentido de irem semeando hoje, para colherem no futuro, não obstante o desenvolvimento de estratégias paralelas, visando a promoção de tudo o que tenham de melhor e que seja mais "vendável".

Mas por aqui parecem não existir problemas dessa natureza, quando todos sabemos que os há. A Golegã parece andar em contra ciclo, quanto todos sabemos que não anda. É a diferença entre a ilusão e o optimismo. Pode ser ténue a linha que os separa, mas a responsabilidade aconselha prudência no discurso.

Noticiar a abertura de um restaurante sob o título "Desenvolvimento Sustentado!" é no mínimo pouco realista (usando um eufemismo). É ilusão e não optimismo. A Golegã tal como outros municípios, melhor, tal como todos os municípios, também tem sofrido os efeitos da crise. Nem percebo porque não assumi-lo com clareza! Lembrem-se do que existia no local onde hoje existe "O Barrigas". Tentem ir jantar à "Casinha Alentejana", ou à "Casita d'Avó" ou ao "Frazão". Infelizmente não vão ter sucesso, como também infelizmente esses negócios não tiveram.

Longe de mim pretender ser arauto da desgraça. Longe de mim defender que a informação municipal deva servir para evidenciar os efeitos menos felizes da crise e acentuar o negativismo. Mas não me poderão levar a mal que considere este anúncio em particular como uma informação travestida de propaganda com o objectivo de servir uma agenda partidária e por isso considerar que não cabe no meu conceito de informação municipal, talvez mais na forma do que exactamente no conteúdo.

Mas se me levarem a mal, também não me importo.

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