segunda-feira, 8 de junho de 2009

EUROPEIAS 2009 - PSD VENCE NA GOLEGÃ !

CDU vence em Azinhaga. PS ganha no Concelho perdendo em ambas as Freguesias

Demonstrando uma vez mais o que aqui tenho escrito quanto à caracterização do eleitorado da Golegã, este mostrou novamente a sua volatilidade, com as vicissitudes do costume em eleições de natureza não autárquica. Nota para a vitória do PSD na freguesia da Golegã, apesar de em valor absoluto ter ficado aquém do que vale o seu eleitorado, sendo um dos partidos nitidamente afectados pela abstenção - fez apenas cerca de 60% do tradicional eleitorado social-democrata. Azinhaga continua a ser o seu "calcanhar de Aquiles", conseguindo uns modestos 16,1%, pouco mais de metade dos votos do seu principal opositor socialista. Importa referir porém que na mesa nº2 de Azinhaga, o PSD ficou apenas a 1 voto do PS, constituindo um indicador merecedor de atenção.

O PS, não obstante ter vencido as eleições no Concelho conseguindo bater o PSD por uns escassos 51 votos, perde em ambas as freguesias, realidade bem diferente de um passado recente, a que não será alheio o voto de protesto ao governo. O PS/Golegã festeja no seu site oficial esta vitória mas parece-me neste caso não ter grandes motivos para sorrir, uma vez que conseguiu apenas conquistar talvez menos de 30% do seu eleitorado fixo, derivando ao que parece os restantes para o BE e para a abstenção, sendo este um dos partidos mais afectados nessa matéria. Na mesa nº4 na freguesia da Golegã, o PS faz mesmo 4º lugar, atrás de PSD, CDS e BE, o que não deixa de ser um indicador relevante, até por se tratar de eleitores mais jovens. Os seus responsáveis locais não deixarão de olhar estes indicadores como um sinal que em circunstâncias especiais o seu eleitorado pode não lhe garantir vitórias em todas as frentes.

A CDU consegue cerca de 70% do seu eleitorado habitual, sendo menos afectada pelo fenómeno da abstenção que PS e PSD, o que aliás vai ao encontro do que se passou a nível nacional. Demonstra que o seu eleitorado está aí, disposto a elegê-la. Faz 3º lugar no Concelho a escassos 41 votos do PSD e bate o PS em Azinhaga, ainda que apenas por apenas 17 votos.

O CDS consegue a marca de 11% (em contexto legislativas nunca atingiu os dois dígitos), mas é minha opinião que isso se deve à perda via abstenção, de votos por parte de PS e PSD. Conquistou quase 80% do seu eleitorado médio, sendo a força política menos afectada pela abstenção, demonstrando novamente a fidelidade e mobilização da sua base de apoio. Julgo que espremeu quase tudo o que tinha, não me parecendo ter por aqui capital eleitoral para muito mais, sendo ainda assim de registar o 3º lugar na freguesia da Golegã, apesar de apenas com 1 voto a mais que a CDU.

O BE que não tem estrutura local na Golegã, afirma-se como uma força política a ter em conta, sendo a 4ª mais votada, parece-me que um pouco às custas da facção da esquerda socialista, como aliás aconteceu um pouco por todo o País. Faz 2º lugar na mesa nº4 na Golegã, o que não deixa de ser um indicador relevante, até porque tem precedentes. Saliento ainda o facto das forças comunistas somarem 32,5%, bem acima portanto dos cerca de 20% à escala nacional. Em contexto autárquico perceber-se-á se esses votos voltam ao PS, até porque o anúncio do seu candidato é, como se sabe, um tabu.

4 comentários:

MGomes disse...

Excelente leitura eleitoral sobre os resultados do passado domingo para o Parlamento Europeu, no concelho da Golegã! No entanto, se me permite, duas suas frases merecem-me um ligeiro reparo. Se faz notar, e bem, que o "O PS, não obstante ter vencido as eleições no Concelho conseguindo bater o PSD por uns escassos 51 votos", de igual modo, não faria todo o sentido e justiça, referenciar que o PSD venceu a freguesia da Golegã por apenas 24 votos de vantagem sobre o PS?! [http://www.europeias2009.mj.pt/pesquisa.html]
O segundo reparo é para não concordar em rigor, com a classificação que faz de "forças comunitas", aos PCP/CDU e BE! Para que fique claro não tenho qualquer vínculo partidário ou outros de quaisquer natureza com estes partidos, mas por força das circunstâncias e para que não restassem dúvidas, ainda fui ler o programa que o Bloco apresentou na sua última Convenção realizada em Junho de 2007, e no seu respectivo texto programático não consta qualquer alusão ao comunismo nem se identificam por comunistas!

Um abraço!

José Godinho Lopes disse...

Boa tarde Sr. Manuel Gomes,

Bem sei que um reparo não é exactamente uma pergunta, mas aceito o repto de comentar os que me deixou, porventura em toada de resposta.

Como alguém disse um dia, notícia não é quando o cão morde o homem, mas sim quando o homem morde o cão. Por isso e conhecendo-se o eleitorado goleganense atendendo ao seu histórico e tomando em linha de conta um conjunto de circunstâncias, quiçá peculiares, neste acto eleitoral, pareceu-me e parece-me indicado o reforço do que expressei.

Quanto a um seu eventual ou hipotético vínculo partidário, seja ele militante ou simplesmente por empatia sócio-ideológica, melhor fora que induzisse em mim alguma espécie de catalogação de índole pessoal. Lido extremamente bem com a divergência de opinião, razão pela qual é sempre com redobrado prazer que confronto aqui opiniões consigo. Talvez até justamente por essa evidente divergência, e, porventura acima de tudo, por respeito a ela.

Quanto ao facto do BE ser ou não comunista: Tanto quanto sei, esta força política é de inspiração trotskista. De resto e como se sabe, o BE surge de um movimento convergente de partidos e organizações então existentes de inspiração fundamentalmente marxista e trotskista. Muitos dos que o fundaram e que ainda nele militam eram dissidentes de partidos ideologicamente comunistas, como sejam o próprio PCP, a UDP, o PSR, a FER e o PCTP-MRPP, entre outros.
Porque me parece vir a propósito, permita-me citar Leon Trotsky, já perto da sua morte: “Nos quarenta e três anos de minha vida consciente, permaneci um revolucionário; durante quarenta e dois destes, combati sob a bandeira do marxismo. (…) Morro revolucionário proletário, marxista, partidário do materialismo dialéctico e, por consequência, ateu irredutível. A minha fé no futuro comunista da humanidade não é menos ardente; em verdade, ela é hoje mais firme do que o foi nos dias de minha juventude.”

Na realidade, o BE não se auto-identifica como comunista. Mas sobre essas razões, parece-me dispensável procurar desenvolver qualquer tese aprofundada.

Um abraço.

MGomes disse...

Caro, José Godinho Lopes!

Perdoe-me "roubar-lhe" mais uns minutinhos do seu precioso tempo! Porventura o tema não mereceria esta continuação de troca de comentários no seu GolegãXXI, mas se calhar, de alguma utilidade poderá servir estas breves confrontações de opinião!
O seu historial sobre a criação do Bloco de Esquerda não podia estar mais correcta! Mas,se me permite, o problema não é exactamente esse, nem o que nos separa nesta análise passa pelo reconhececimento das inpirações políticas do BE!!Aí estamos de acordo! Também penso comungarmos da mesma opinião de que o que define as ideologias dos partidos políticos, é a construção e a sua aplicabilidade quando no exercício do poder, de um programa essencialmente baseado em três grandes áreas: orientação política, económica e social! Sendo assim, difícilmente poderei subscrever a ideia de que pelo facto do Bloco ter como fundadores e aceite na suas fileiras, militantes oriundos de formações políticas de inspiração comunista, possa por esse facto, ser também considerado ideológicamente comunista, por influência destes!Não creio que assim seja, porque senão, que diríamos de outros partidos políticos onde hoje militam personalidades com actuais e importantes cargos nacionais e até internacionais, e que vieram precisamente do PCP(ml), MRPP, AOC e até do PCP?

Um Abraço!

José Godinho Lopes disse...

Caro Manuel Gomes,
O tempo é precioso mas o gosto pela discussão também. É por isso que das coisas que temos debatido a que menos concordo consigo é que este tema não mereça a continuação desta troca de comentários. Ao contrário, acho que merece e muito. Até porque é dos poucos que aqui tem contribuído para o reforço deste tipo de debate, que reputo de importante e interessante. Desde já lhe agradeço.

Foca um aspecto que considero realmente importante: a teorização doutrinária versus aplicação prática da mesma. O BE, na minha óptica, constitui hoje uma esquerda populista e demagógica, onde estão latentes ideias base do comunismo tradicional. O BE passou daquilo que Augusto Santos Silva apelidou de esquerda chique, a que eu acrescento radical, para uma toada demagógica que, preocupantemente parece que tem vindo a obter sucesso.

Até à algum tempo eu tinha algumas dúvidas quanto ao modelo de sociedade que o BE defendia. Parecia-me difuso. Os últimos tempos têm ajudado a clarificar essas dúvidas.

E quando defendo que o Bloco é uma força comunista, não me refiro unicamente à tendência ideológica dos seus fundadores nem às circunstâncias do seu aparecimento, da tal convergência de movimentos comunistas que antes referi. Não. Digo-o porque a defesa do modelo comunista é cada vez mais evidente. E, mais grave, é um modelo comunista travestido de socialismo soft, populista como já disse e demagógico. O PCP será aqui bem mais puro na sua identidade ideológica, porque toda a gente sabe com clareza o que o PCP defende como modelo de sociedade. Agora temos que perceber porque está o Bloco a passar à frente…

Concretizando: Combater a propriedade em nome da moral política é um clássico da propaganda do comunismo; recorde-se um recente cartaz do BE, sobre a EDP e Galp – “a todos o que é de todos”. Isto é na minha opinião populista, porque se há empresas que já são um pouco, ou não tão pouco, de todos são justamente a Galp e a EDP porque ou são públicas ou o Estado através das golden-shares tem um peso específico grande nas suas decisões. Os lucros já são assim algo de todos. Mas o Bloco não pretende apenas isso. A leitura que faço é que o sinal que o BE quer dar é que defende o caminho da nacionalização, hoje da energia, amanhã da água, depois a nacionalização de muitas outras coisas. Outro cartaz: “quem tem lucros não pode despedir”, revela com clareza a influência que o BE defende que o Estado deve ter na economia de mercado, criada justamente para dar lucro; será que o BE não estará também a falar do controle absoluto sobre a economia de marcado, i.e. – nacionalização do tecido produtivo, porque também o lucro das empresas deva ser de todos? O Bloco não indicia a proibição (quem tem lucros não pode despedir) e a repressão (taxar a 90% os rendimentos dos gestores) e esses não são indicadores de controlo sobre a economia de mercado? E esse controlo não é uma marca do comunismo?

E na minha perspectiva estas são orientações políticas divergentes com o que defendo: uma democracia assente na representação parlamentar, um estado de direito compatível com uma saudável economia de mercado, sem esquecer nem esconder que gostaria de ver da parte dos Estados maior eficácia na regulação dos mercados e nas garantias da justiça e protecção social aos seus cidadãos.

Até 2ª feira dificilmente estarei on-line pelo que, se for caso disso, “falaremos” depois.

Tenha um excelente fim-de-semana, grande, se for o caso.

Um abraço.