quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

AS 7 VIDAS DE SANTANA LOPES

Pedro Santana Lopes parece ter sete vidas (políticas, entenda-se).

Recentemente anunciado como candidato pelo PSD à Câmara Municipal de Lisboa, PSL apresta-se para acrescentar à sua já extensa lista de combates políticos, mais um, difícil, como tanto gosta.

Santana Lopes, político com vasto curriculum, tem tido um percurso algo errático. Aquele que era olhado como enfant terrible do PSD e a quem se chegou a augurar uma brilhante carreira política, não tem decididamente feito jus a tais prenúncios. Da nova esperança, PSL cedo firmou a sua posição interna no PSD, mas nunca a ponto de conseguir conquistar a liderança do partido, que por várias vezes disputou. Romântico para alguns, inconsequente para outros, PSL é o tipo de político que não se pauta pelo calculismo, mas antes pelos impulsos. Contudo, parece faltar sempre algo quando assume a concretização de alguns "combates".

Além disso, tem protagonizado alguns factos inéditos, até insólitos, no panorama político nacional. PSL foi o primeiro ex-primeiro ministro a voltar ao parlamento na qualidade de deputado; foi líder parlamentar, depois deixou de ser, continuando como deputado; é o primeiro ex-líder de um governo da república a candidatar-se a uma Câmara Municipal (ainda que essa seja a de Lisboa, com tudo o que isso representa), órgão esse a que já presidiu, antes de ser nomeado primeiro-ministro, após a saída de Durão Barroso. Sujeita-se agora, caso as coisas lhe corram menos bem, a ser vereador numa câmara da qual foi presidente e depois de ter sido primeiro-ministro. Em resumo, poderá baixar de primeiro-ministro a vereador da oposição num relativamente curto espaço de tempo.

Parece haver uma inversão à progressão natural de uma carreira política, a tal que se presumia a dada altura vir a ser brilhante. Para uns, isso poderá ser interpretado com um desprendimento dos elevados cargos de Estado e humildade na hora de dar a cara em combates difíceis. Para outros, passará a ideia de que PSL, procura de forma (já) desesperada manter a sua carreira política perto dos holofotes, de forma a não desaparecer de cena. Seja como for, é ele o próximo candidato do PSD à presidência da CML.

Confesso-me surpreendido com a escolha e não escondo que Pedro Santana Lopes não encaixa nas minhas preferências como modelo político. Manuela Ferreira Leite sempre disse que contava com todos e nota-se um esforço para unir as várias facções do partido. Mais do que PSL o que está em causa é o perfil do candidato do PSD à CML e surpreende-me que nesse perfil possa ser encaixado este candidato. Não sei se é o que terá mais possibilidade de vencer, mas sei que o PSD, a fazer uma travessia no deserto, que a faça no sentido de se reformar, de se repensar e de readaptar na forma e no conteúdo daquilo que tem para sugerir a Portugal.

Já aqui falei da política das convicções e da política de interesses. Acredito que a gestão interna destas questões não seja apenas a escolha simples entre preto ou branco, entre sim ou não. Aceito que seja complexa e que careça de alta ponderação. Pedro Santana Lopes é o candidato dessa complexidade, é o candidato das concessões, das contas feitas, das pressões internas e da necessidade da satisfação de facções.

Manuela Ferreira Leite em 2009 terá por isto o partido mais unido e menos turbulento? Pode até ser. Mas terá por isto um Partido melhor? E, acima de tudo, terá por isto um Partido diferente?

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