segunda-feira, 7 de abril de 2008

A ESQUERDA, A DIREITA E O PSD

Nesta dicotomia habitual entre esquerda e direita, onde normalmente se atribui pouca relevância ao centro-esquerda e centro-direita, tenho observado que, nos últimos anos, o PSD tem sido quase genericamente conotado com o centro direita primeiro e com a direita depois. Discordo.

E incomoda-me o facto de o próprio Partido ir aceitando estas conotações, sem fazer questão em rever a matéria e colocar-se, ideologicamente falando, no seu lugar. Qual? Para mim, talvez justamente entre os dois centros. Não podemos esquecer que o já por várias vezes apelidado de "partido mais português de Portugal", dada a sua sustentação programática sui generis e híbrida, condicionada por circunstâncias muito especiais e particularmente nacionais, assenta num modelo essencialmente reformista, baseado numa interessante fusão entre o personalismo cristão, um liberalismo de raiz burguesa e princípios de justiça social vincadamente sociais-democratas.

Recordo o escândalo, para alguns sociais-democratas e partidários da esquerda ortodoxa, motivado pelas palavras de Cavaco Silva, quando afirmou que o PSD era também o partido da "esquerda moderna". Foi nessa altura, recordo, que o PSD, nessa toada de "esquerda moderna" teve a capacidade de construir uma política infinitamente mais sólida e consistente sob o ponto de vista social, virada realmente para os mais carenciados, que toda a retórica solidária e inócua do PS de então. Naquele que viria a ser, em minha opinião, o pior governo de que tenho memória, liderado por António Guterres, da panóplia da teoria do diálogo social não resultou mais do que uma cultura subsidio-dependente, em especial para um gigantesto establishment.

Recuando um pouco mais, aqueles que não queriam viver numa democracia tutelada por poderes revolucionários nem trilhar o "caminho para o socialismo" - que era o que o PS queria, procurando evitar a todo o custo a revisão das questões económicas da Constituição - apoiaram Cavaco Silva em 1987, como haviam apoiado Mário Soares em 1985.

Os dois ajudaram a romper o conceito da inevitabilidade benéfica e equilibrada da esquerda ortodoxa, ou se quisermos, da "esquerda antiga" e isto tem que ser entendido, quer nas suas razões, quer na sua forma.

Abraços,

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