segunda-feira, 28 de abril de 2008

AUTÁRQUICAS 2009 - CAP.II

Os sinais das movimentações partidárias na preparação dos "cenários" das diversas eleições do próximo ano vão-se adensando com o passar das semanas. Começam hoje a ser mais evidentes algumas opções estratégicas que visam a criação desses cenários. Atente-se por exemplo ao caso do PS/Golegã, que procura insistentemente criar a ilusão de uma congregação de objectivos comuns entre o PSD e CDU locais, porque sabe que isso lhe trará inequívocas vantagens, pelo menos no plano teórico. O PS tem pegado em tudo o que pode. Começou por dar visibilidade a individualidades dessas duas forças políticas, uns no exercício de cargos partidários, outros nem por isso. Agora, nota-se a previsível tendência de envolver as próprias estruturas partidárias nessa "guerra", procurando criar o cenário de terror que a associação das forças do mal trarão às nossas vidas e que a única solução de continuarmos no paraíso terreno será, claro, eleger novamente aqueles que, contra tudo e contra todos, vão defendendo os superiores e inalienáveis interesses do Concelho.

Curioso é perceber a forma (algo ingénua, na minha modesta opinião) como os primeiros visados por essa estratégia interagiram com ela. Ou seja, o PS chamou alguém para o palco e esse alguém apareceu logo, desempenhando o papel que o PS queria que fosse desempenhado.

Depois, consubstanciada por esses comportamentos, surge a tese da teoria da conspiração das forças ocultas, que, como é óbvio irá ser um objectivo central do PS manter e alimentar até bem perto das eleições do próximo ano.

O PS sabe quanto valem o PSD e a CDU individualmente, mas deduz (parece-me que com razão) que valham menos juntos que o somatório daquilo que valem em separado . Sabe também que ao retirar credibilidade a essas estruturas, retirará inevitavelmente votos a ambas que, supostamente, irão direitinhos para a algibeira dos socialistas. Se o PS conseguir montar esse cenário de descrédito, perderão o PSD e a CDU, sabendo-se como se sabe, que a identidade diferenciada dos seus eleitorados, não veria com bons olhos uma conspiração contra o regime, como meras forças de bloqueio aos que querem fazer. No fundo, o exercício prático da máxima dividir para reinar.

Mas até aqui tudo bem. Quem anda na política tem que ter o necessário poder de encaixe para lidar com as estratégias alheias, ainda que possam, aqui e acolá, roçar a deselegância. O que já não me parece nada bem é que os próprios dirigentes partidários venham publicamente confirmar esta teoria, dando um tiro nos pés de consequências inimagináveis (ou talvez não).

O que devem, quer o PSD quer a CDU fazer, é assumirem a sua identidade própria, lutando com "as armas" que têm, em nome da sua própria coerência política, da sua própria humildade e honestidade democrática e do respeito ideológico pelos seus eleitorados. Devem a CDU e o PSD organizarem-se devidamente, (auto) credibilizarem-se e cumprirem o seu papel em oposição no sentido único de serem úteis ao desenvolvimento do Concelho, ainda que assentem o seu modelo em substância divergente do partido do poder. Esta demarcação de identidade, desmontaria seguramente a estratégia estruturada pelo PS. Como o irão fazer e, não menos importante, com quem o irão fazer, é problema de cada um deles.

É por isso que, em nome do necessário e desejável reequilíbrio representativo nos órgãos de poder local, quer CDU quer PSD sejam iguais a si próprios, na recuperação da sua identidade, da qual resultará por certo a reaproximação com os seus eleitorados.

Enquanto continuarem a alimentar a estratégia do PS, contribuirão para o seu próprio naufrágio político.

1 comentário:

Anónimo disse...

Zé Tó, deixo-te aqui o que disse acerca dessa alegada "Frente Comum" que os socialistas vão abanando, qual espantalho demoníaco:

"Quanto à questão da referida Frente Comum, que afirmou ter vindo a ser propalada com alguma insistência na Internet, considerou que essa acusação, se tal pretende ser, não o incomodou, por ter sido desde sempre uma constante do seu trabalho como Vereador todos ouvir e com todos dialogar, onde se incluem membros actuais ou passados do Partido Comunista ou do Partido Socialista, com ou sem experiência autárquica anterior. Afirmou que tal postura lhe tem trazido grandes benefícios em termos de aprofundamento do conhecimento das questões realmente importantes para o Concelho e que tal se reflectirá, na sua opinião, no seu trabalho na Câmara em prol dos Munícipes. Ao contrário, afirmou, do Partido Socialista da Golegã, que na sua prática demonstra não considerar dignas de crédito as opiniões de quem não se move no seu espaço político, considerando-as até manifestações hostis e tentativas de entravar o desenvolvimento do Concelho. (...) Afirmou ainda que com muita honra inclui no seu círculo próximo de contactos e amigos, socialistas, comunistas, etc, bem como outros cidadãos apartidários, com relevante intervenção na sociedade civil, com quem debate de forma franca e aberta muitas vezes problemas locais e nacionais, em ambientes de sã discussão política que muito conhecimento lhe têm trazido, porque sabe desde há muito que é preciso sair da caixa para pensar fora dessa caixa."

Vereador Carlos Simões in Acta da Reunião de Câmara de 17/04/2008

Os rapazes pegaram nisto e, como já sabemos, cortaram e destacaram de forma a descontextualizar as afirmações. Mais um daqueles casos de desonestidade intelectual.

Mas alguém em seu perfeito juízo acredita na possibilidade de uma "coligação autárquica" PSD-CDU?! Se alguém acredita nisso, das duas, uma: ou anda a fumar algo que é ilegal ou deixou de tomar a medicação.

Zé Tó, como sabes, a falácia do homem de palha (também falácia do espantalho) é um argumento informal baseado na representação enganosa das posições defendidas por um oponente. "Armar um 'homem de palha'" ou "tramar um argumento 'homem de palha'" é criar uma posição que seja fácil de refutar, e em seguida, atribuir essa posição ao adversário. Uma falácia do homem de palha pode ser de facto uma técnica de retórica bem-sucedida (isto é, pode conseguir convencer as pessoas) mas, é realmente uma falácia desinformativa porque a argumentação real do oponente não é refutada.

É fácil de ver qual é o espantalho aqui: "Os nossos adversários na disputa pela Câmara falam com comunistas, logo devem defender uma coligação com os comunistas. Se eles forem eleitos, o nosso concelho vai ficar nas mãos dos comunistas!".

Continuamos em terrenos de profunda desonestidade intelectual.

Fico a aguardar os próximos exemplos dignos de integrarem directamente o dicionário de falácias. Vejo perfilarem-se no horizonte os seguintes:

- Ataque Pessoal
- Apelo ao Povo
- Generalização Apressada
- Falácia de Composição
- Falácia da Divisão
- Inversão do Ônus da Prova

É só esperar e iremos poder exemplificar cada uma delas com exemplos concretos e locais.