segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

GOLEGÃ JOVEM DE FACE OCULTA

O anonimato não é de todo a forma que entendo mais correcta para qualquer intervenção, nomeadamente a cívica. Numa sociedade de pleno direito, democrática e aberta, ainda hoje me espanto com o receio de assumir posições, de emitir opiniões, de escolher, de optar, de criticar. Ou melhor, como diria Sá de Miranda, m'espanto às vezes, outras m'avergonho.
Da juventude, regra geral irreverente, menos sensata às vezes, não se espera anonimato. Espera-se coragem e determinação para dar rosto às causas em que acredita, espera-se audácia e acutilância. Não medo. Jamais anonimato.

Surgiu à uns tempos, sob a forma de movimento sensibilizador para a acção da juventude goleganense o "Golegã Jovem". Segundo informações veiculadas em O Riachense, o movimento reclama-se apartidário e, pasme-se, prima pelo anonimato por ter "receio de ser asfixiado antes mesmo de se impor". E isto meus caros merece naturalmente uma reflexão.

Antes de mais deixa subentendido que na Golegã existe na realidade um défice democrático. Se bem se lembram já aqui coloquei um artigo sobre esta matéria, num artigo intitulado de "O Poder Local condiciona as liberdades?" Foi em 4 de Outubro e, sem surpresa mas com desilusão, constatei que as centenas de visitantes do Golegã XXI nesse mês não tiveram uma única palavra para o tema. Por receio, por desinteresse ou por qualquer outra razão, a verdade é que não mereceu, ao contrário de outros assuntos, a "vossa" atenção.

Mas importa referir, ainda em relação a esse artigo, que os exemplos que deixei (Veiga Maltez, Carlos Simões e Conceição Contente) assinaram por baixo as suas opiniões de que o poder local condicionaria as liberdades. Sem subterfúgios, sem capas, tudo às claras. Como de resto deve ser.

Mas há mais coisas que me inquietam no anonimato do Golegã Jovem (GJ). A escolha do caminho mais fácil. A escolha da obscuridade, que é geralmente reveladora de falta de carácter. A escolha de ter medo, a escolha de se esconderem num blogue na web, de corroborar naquilo que consideram ser a asfixia democrática na Golegã. O GJ pactua assim com esse estado de coisas, se é que tal existe na realidade. Mais, este tipo de comportamento não é o que desejo para os jovens da minha terra. Não quero uma Golegã Jovem de Face Oculta. Não quero. Quero jovens com capacidade de intervenção cívica, política, associativa e empreendedora. Mas também quero jovens sem receio de se mostrarem, de opinarem, de criticarem e sentirem que com isso enriqueceram a democracia local. O GJ, enquanto continuar assim, contribui inequivocamente para o seu empobrecimento. Enquanto for assim poucos o levarão a sério, muitos questionarão a sua verdadeira razão de existir. E é pena, porque o blogue até tem algumas matérias interessantes e pertinentes.

Far-me-ão o favor de não me considerarem totalmente ingénuo. Sei que tudo tem um preço. Só que a questão, se me permitem, nunca deve ser essa.

A questão é simples e tem que ver apenas com o quanto estamos dispostos a pagar.

6 comentários:

PP disse...

Caro José,

Concordo em pleno com esta tua reflexão e permite-me acrescentar, que é curioso observar que na maior parte dos blogs, sejam eles de qualquer natureza, a maioria dos seus autores optam por usar o anonimato.

Como sabes, concorde-se ou não, é conferido o uso do anonimato como um direito que assiste a qualquer indivíduo e que está intimamente ligado ao direito à privacidade.

Também não deixa de ser curioso observar que, esta necessidade que as pessoas têm de se refugiar no anonimato para expressarem as suas opiniões na blogosfera. Esta incapacidade, muito generalizada, de se assumir aquilo que se pensa, diz, ou escreve. Obviamente, a razão directa deste receio em assumir as opiniões pessoais tem que ver com a recusa em assumir os custos, reais ou imaginários, que lhe estão associados.

Independentemente das racionalizações que cada um possa fazer para justificar o seu caso pessoal, a verdade é que estamos sempre a falar de uma recusa ou receio em assumir as consequências do que se pensou, disse, ou escreveu. Muito embora possa parecer irrelevante, esta questão toca numa das questões mais fundamentais de um regime democrático. Isto porque esta recusa em assumir os 'custos do pensamento' tem consequências no exercício da cidadania e na qualidade da democracia.

Na realidade, a opção pelo anonimato na blogosfera revela plenamente o défice de cidadania e a qualidade da democracia no meio onde se insere.

Um abraço,

Pedro Ramalheira Azevedo

José Godinho Lopes disse...

Olá Pedro.

Obrigado pelo contributo.

Dizes a dado momento que "...esta recusa em assumir os 'custos do pensamento' tem consequências no exercício da cidadania e na qualidade da democracia.". Isso merece a minha total concordância. É por isso que o Golegã Jovem, seja lá o que for, enquanto estiver assim, tem o efeito contrário ao que julgaria ter quando alguém o criou.

Faz mais mal que bem.

Unknown disse...

O que me custa é que alguém se veja obrigado a recorrer ao anonimato. Mas como razão possível e plausível, o actual estado da liberdade de expressão e de opinião no nosso País. É claramente fruto da época...

Generalizando para o anonimato nos blogs, concordo com Menezes Leitão quando este afirma que “a imposição de identificação apresentar-se-ia como excessiva dado que há inúmeras razões legítimas para o utilizador querer permanecer anónimo” (LUIS MENEZES LEITÃO, A Responsabilidade Civil na Internet)....

Criou-se a blogosfera como espaço livre e democrático de expressão e opinião mas exige-se que seja apresentada uma "identificação" ou uma "credencial" para justificar formalmente o conteúdo material?

Para além de que a ideia de que ao assinar um texto, com um nome, quebrando o anonimato, se assume um compromisso, uma ligação entre alguém real e o seu testemunho virtual, é falacciosa: Qual a diferença entre um blog meu anónimo e outro onde assinasse como Alberto de Jesus?

No limite, até o Código Civil está a favor do Golegã Jovem: "O pseudónimo, quando tenha notoriedade, goza da protecção conferida ao próprio nome" (artº 74) .

Para além disso, até agora o anonimato do blog Golegã Jovem não me parece que tenha sido usado para prejudicar, insultar ou difamar quem quer que seja. Honra lhe seja feita, conseguiu mobilizar curiosidades e vontades.

Se e quando entender revelar-se o(a) autor(a), espero não me deparar com mais um caso de dissimulação e má-fé... até lá, tem o benefício da minha dúvida.

"Frequento" a Web desde 1996. Sim, já recorri ao anonimato. Por dois simples motivos: porque me era impossível ficar calado e porque receei pôr em risco a minha família se falasse "a descoberto"... Chamando os bois pelos nomes... hoje em dia, quem não está a favor, está contra... e o polvo também aqui chega. A perseguição política é novamente uma realidade.

Mais lamentável e sem qualquer desculpa, foi decerto o que se passou em 2008/2009 com o site do PS Golegã, utilizado por "cronistas anónimos", refugiados sob a bandeira desse partido, para desferirem os mais soezes ataques pessoais de que há memória na blogosfera do Concelho, onde, por exemplo, citações descontextualizadas foram manipuladas e deturpadas, SEM DIREITO A RESPOSTA no mesmo espaço.

Recordam-se com certeza disso. No Azinhaga.NET ainda se encontram resíduos dessa época ( http://azinhaga.net/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=270&Itemid=2 ).

José Godinho Lopes disse...

Olá Carlos.

Obrigado pelo teu contributo, que fica registado.

Um abraço.

Unknown disse...

Olá Zé, só agora voltei :-)

Compreendeste claro o que pretendi defender. Vai bem para além do que o anonimato pode ser de mau.

Tu próprio o reconheceste aqui no Golegã XXI, "Aqui ninguém precisa de ter receio de ser visto, até porque pode facilmente camuflar-se no anonimato, ainda assim melhor do que não ter opinião."

Infelizmente parece que estamos a voltar aos tempos em que uma Alta-Venda era necessária para dinamizar a massa acrítica e inerte.

José Godinho Lopes disse...

Olá Carlos.

Peço desculpa mas o tempo tem sido demasiado pouco.

Julgo ter percebido na exacta medida o que escreveste.

Eu respeito naturalmente o anonimato, quanto mais não seja pelo facto de não ter outro remédio. Mas consigo compreendê-lo em circunstâncias especiais.

A minha frase, que obviamente subscrevo, não deve porém ser retirada do contexto, porque perde bastante do sentido que pretendi dar-lhe quando a integrei no artigo em causa, não sem uma ponta de ironia.

Mas no caso concreto do Golegã Jovem, seja lá isso o que for, que se intitula como um movimento (que presumo colectivo), que tem como slogan "a tua voz", que pretende discutir o nosso modelo político e social, que pretende (presumo) ser uma pedrada no charco na luta pelo reforço do processo democrático onde se insere, que se anuncia nos jornais, etc., nasce totalmente deformado de carácter ao refugiar-se no sempre confortável anonimato. Mas mais. Como afirmei e repito, contribui muito mais para o estado de coisas que critica do que para melhorá-lo.

E eu lamento isso profundamente.

Um grande abraço.

P.S.: (de post scriptum, logicamente) Já compraste um barco?!?!? Um fulano que foi deputado(ou é, não faço ideia) chamado Nelson Baltazar parece que os vende baratos. Está esclarecida a história do dique versus represa.