quarta-feira, 6 de outubro de 2010

OS DIFÍCEIS PASSOS DE COELHO

O País está na expectativa. Pedro Passos Coelho afirma repetidamente não viabilizar o orçamento de Estado para 2011, que é como quem diz contribuir para o inviabilizar, se o mesmo não contemplar uma forte redução da despesa e, ao mesmo tempo, se esse considerar um aumento de impostos. Passos Coelho disse mais. Afirmou que não iria pedir desculpa aos portugueses pela segunda vez.

Mas vamos por partes. Uma parte da questão é não termos orçamento e entrarmos numa crise política profunda, com todas as consequências que se avizinham por parte de instâncias e mercados internacionais, previsivelmente demolidoras para Portugal; outra parte da questão é o PSD viabilizar o orçamento (provavelmente abstendo-se) e o País entrar em recessão técnica por falta de estímulos da economia, para controle das finanças públicas. Apetece dizer venha o diabo e escolha.

Mas, feliz ou infelizmente não é ao diabo nem a outras figuras mais ou menos místicas que cabe tomar decisões. É dos nossos deputados, eleitos directamente pelo nosso voto, que sairá a decisão em relação a esta matéria. O que me parece claro é que o aumento da carga fiscal será (infelizmente) uma realidade inadiável, por isto: porque se não houver orçamento espera-se a intervenção do FMI e a carga fiscal aumenta; porque se houver orçamento aprovado (e partindo do princípio que o PS e o Governo não vão recuar nessa matéria, como não me parece que vão) o mesmo, como recentemente se evidenciou, prevê o aumento de impostos.

E é por tudo isto que acho difícil o caminho que Passos Coelho decidiu trilhar, porque me parece que o discurso tenderá a contrariar a acção, colocando-o numa posição de alguma fragilidade, perfeitamente evitável se tivesse contido o discurso em torno do não aumento de impostos, ao contrário da redução da despesa, onde parece levar o barco a bom porto. E por este andar, parece-me provável que irá pedir desculpa pela 2ª vez aos portugueses, contrariando novamente o seu discurso.

Para terminar, acho que o PSD deve viabilizar o orçamento, abstendo-se na sua votação, demonstrando assim sentido de Estado e postura de responsabilidade, na defesa dos interesses de Portugal, ainda que assente numa óptica de mal menor. Seja como for, o PSD jamais poderá deixar de apresentar um orçamento alternativo, com medidas realistas de redução de despesa suficiente para colmatar o não aumento de impostos, no sentido de demonstrar ao País que é possível controlar as contas dos Estado sem sobrecarregar as famílias e as empresas e sem afectar tanto a economia interna. Conseguindo-o, transferirá para o PS e para o Governo a responsabilidade dos efeitos anunciados da crise económica.

Se tudo isto se inverter, se o PS recuar no aumento de impostos, se aceitar as propostas do PSD em conseguir equilíbrio das finanças públicas só do lado da despesa e se tal for realmente possível e ainda se, simultaneamente, garantirmos a estabilidade política no País, terei que lhe tirar o meu chapéu.

Até lá, aguardemos.

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