
Mas vamos por partes. Uma parte da questão é não termos orçamento e entrarmos numa crise política profunda, com todas as consequências que se avizinham por parte de instâncias e mercados internacionais, previsivelmente demolidoras para Portugal; outra parte da questão é o PSD viabilizar o orçamento (provavelmente abstendo-se) e o País entrar em recessão técnica por falta de estímulos da economia, para controle das finanças públicas. Apetece dizer venha o diabo e escolha.
Mas, feliz ou infelizmente não é ao diabo nem a outras figuras mais ou menos místicas que cabe tomar decisões. É dos nossos deputados, eleitos directamente pelo nosso voto, que sairá a decisão em relação a esta matéria. O que me parece claro é que o aumento da carga fiscal será (infelizmente) uma realidade inadiável, por isto: porque se não houver orçamento espera-se a intervenção do FMI e a carga fiscal aumenta; porque se houver orçamento aprovado (e partindo do princípio que o PS e o Governo não vão recuar nessa matéria, como não me parece que vão) o mesmo, como recentemente se evidenciou, prevê o aumento de impostos.
E é por tudo isto que acho difícil o caminho que Passos Coelho decidiu trilhar, porque me parece que o discurso tenderá a contrariar a acção, colocando-o numa posição de alguma fragilidade, perfeitamente evitável se tivesse contido o discurso em torno do não aumento de impostos, ao contrário da redução da despesa, onde parece levar o barco a bom porto. E por este andar, parece-me provável que irá pedir desculpa pela 2ª vez aos portugueses, contrariando novamente o seu discurso.
Para terminar, acho que o PSD deve viabilizar o orçamento, abstendo-se na sua votação, demonstrando assim sentido de Estado e postura de responsabilidade, na defesa dos interesses de Portugal, ainda que assente numa óptica de mal menor. Seja como for, o PSD jamais poderá deixar de apresentar um orçamento alternativo, com medidas realistas de redução de despesa suficiente para colmatar o não aumento de impostos, no sentido de demonstrar ao País que é possível controlar as contas dos Estado sem sobrecarregar as famílias e as empresas e sem afectar tanto a economia interna. Conseguindo-o, transferirá para o PS e para o Governo a responsabilidade dos efeitos anunciados da crise económica.
Se tudo isto se inverter, se o PS recuar no aumento de impostos, se aceitar as propostas do PSD em conseguir equilíbrio das finanças públicas só do lado da despesa e se tal for realmente possível e ainda se, simultaneamente, garantirmos a estabilidade política no País, terei que lhe tirar o meu chapéu.
Até lá, aguardemos.
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