
Eu tenho receio que tal não seja possível nesse âmbito. Já nem falo da colaboração do PS em matérias carentes de alteração, algumas que necessitarão claramente de revisão constitucional. Olho o PS e lembro-me do partido da última metade da década de 80 e primeira metade dos anos 90. Lembro-me bem da sua participação na contestação social ao então governo de Cavaco Silva. Lembro-me bem do aproveitamento do caso das portagens da ponte 25 de Abril, dos acontecimentos na fábrica Pereira Roldão e muitos outros casos.
As cúpulas do PS bem avisaram na campanha que PSD e CDS terão mais dificuldade em conter a contestação social que se avizinha num futuro próximo. Imagino que João Proença e a socialista UGT não terão a partir de agora mãos a medir, imaginando ainda o corropio que deve andar por ali.
Estou expectante quanto à posição do PS oposição vs. PS governo em relação ao cumprimento do acordo que o próprio PS assinou com a troika estrangeira. É que esse acordo assume que Portugal terá que assumir medidas de austeridade no sentido de alguma liberalização em matéria económica, do emagrecimento do Estado e do controle das finanças públicas também pelo lado da receita, leia-se provável aumento de impostos. Segundo julgo saber, o PS assumiu ainda com a troika rever a lei laboral, desagravando por exemplo os valores das indemnizações nos despedimentos. Entre muitos objectivos constantes do memorando de entendimento, aguardemos pela diferença do antigo PS para o novo PS.
Não espero ainda assim uma transformação imediata. O PS vai necessitar de algum tempo. Tempo para eleger a nova liderança; tempo para que essa liderança vença o fantasma de Sócrates; tempo para digerir uma derrota mais substancial que esperava; tempo para adaptar o aparelho partidário à nova realidade; tempo para deixar esquecer que foi o outro PS que assinou o acordo de ajuda externa. Esse será também o tempo do estado de graça de Passos Coelho e do PSD, que antevejo mais curto que o normal.
A partir daí teremos um renovado PS, firme na contestação social, agressivo na crítica ao governo, procurando demonstrar que não teve nada que ver com a governação dos últimos 15 anos. Teremos um PS que irá contradizer muito daquilo que defendeu na campanha eleitoral no que diz respeito ao diálogo partidário e à necessidade premente da estabilização do ambiente político pela supremacia do supremo interesse nacional.
Digo-vos com a mesma sinceridade que espero estar enganado, porque Portugal precisa de um PS forte e responsável, actuando no sentido de dar a sua colaboração de grande partido que é ao desenvolvimento do País.
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