quinta-feira, 5 de maio de 2011

O CONTO DO VIGÁRIO

Em 2009 o Governo decidiu reduzir o IVA de 21% para 20%, contrariando a opinião de alguns especialistas em finanças públicas. Estávamos já em plena crise e as eleições legislativas seriam para breve. Hoje já vai em 23% e vai aumentar.
O então ministro da economia Manuel Pinho, decretava o fim da crise na TV, algo que entrou no anedotário da política nacional.
Entretanto vieram os aumentos de 3% na função pública, novamente contrariando uma forte e tecnicamente sustentada opinião de especialistas vários, dos mais variados quadrantes políticos. Isto, claro, antes das eleições. Depois tiveram que os reduzir em maior percentagem.
Mesmo sem os 150.000 novos empregos, antes prometidos e depois de um conjunto de peripércias nunca antes vistas por parte de um primeiro-ministro em Portugal, Sócrates foi reeleito, formando governo com base numa maioria relativa parlamentar. Crise era coisa da Grécia, da Irlanda, da Islândia. Por cá, tudo rosa.
O desemprego subia, as falências de empresas multiplicavam-se e eis que surge uma nova vitamina propagandística. Contra tudo e contra todos, havia que avançar para o TGV e para um novo Aeroporto Internacional. Mais que muitos alertavam para os perigos de tão inconsciente aventura atendendo às circunstâncias. Mas Sócrates não queria saber de desgraças. Legitimado por todos aqueles que nele votaram, continuou firme nos disparates. A coisa foi entretanto piorando. Vieram vários PEC's e no III havia a necessidade de acalmar os mercados com a adopção de medidas de austeriade que, segundo o Governo, seriam suficientes para colocar em ordem as contas públicas. A oposição fez-lhe a vontade e estariam assim reunidas condições para nos governarmos sozinhos. Mentira, como hoje se mostra. Os juros da dívida soberana não pararam de crescer e o ministro das finanças impõem o tecto de 7% de taxa para pedir ajuda externa. Pouco tempo depois - com os mercados ainda nervosos - aí estão os 7%. Mas como o que hoje é verdade amanhã pode ser mentira, Texeira dos Santos desdisse o dito e afinal teríamos capacidade para reagir a essa escalada dos juros. Como é lógico o governo percebeu para onde caminhava e que o fim desse caminho seria inevitavelmente o pedido de ajuda externa. Pelo caminho sabe-se ainda que o défice está mascarado e á afinal bem maior do que afirmara o Governo.
Havia então que arranjar um bode expiatório, para quem pudessem ser canalizadas todas as responsabilidades. Arranjaram-se vários. PSD, Passos Coelho e o Presidente da República foram, como se previa, os primeiros alvos.
É de mestre, este conto do vigário.
Elabora-se um PEC IV, criam-se condições políticas para acirrar os ânimos e a oposição - leia-se PSD - não terá senão outra forma de recusar o PEC IV. E sem PEC, meus amigos, não há governo. Foi o que se passsou. A sorte que Sócrates teve por não ter maioria absoluta, ou por o PSD não aprovar o bendito PECIV! Depois, uma estratégia perfeita de responsabilização do PSD pela crise política, que fez cair o rating do País, que fez subir ainda mais os juros da dívida pública e que fez, finalmente, chegar a Portugal a troika do FMI. Teixeira dos Santos diz agora que só há dinheiro até Maio, mas a culpa é do PSD. O resgate que antes era tabú, passou agora a ser a nossa única forma de substistência! A nossa tábua de salvação.
Este é o maior conto do vigário da democracia Portuguesa.
E choca-me pensar que exista um só português que aceite que o Governo e o PS, que governaram Portugal em 12 dos últimos 15 anos, não tenham responsabilidade alguma na situação por que passamos.

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